quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Rascunho da segunda morte de um outro querido



perdoem as letras minúsculas e a torta ortografia. estou cansado pra corrigir. e, no mais, a morte não é nada senão minúscula. muito minúscula. uma acupuntura de perdas diárias.

Entre um canto meu e outro que acompanho para minimizar meu caos: erro de som: um batido. Toque fraco: como se o braço tivesse que agora abarcar muitas pessoas por consolo já concordado quando funerais acontecem e desconhecidos familiares se encontram. Era um toque que premeditava o cansaço do abraço funeresco.  Abro. Penso imediato ser apenas um pedido de volume mais baixo. Já são 4 e pouco de natal. Não. não era um pedido. era um aviso. quase sabido aviso, antes só um medo de hipóteses doídas.  veio um pouco mais cedo do que suporta levemente esse isso sintetizado chamado coração.
ela abriu e disse- com braços e olhos cansados-  tia Lola morreu.
não queria falar nada, tampouco ouvir além do bastante. que ás vezes não há mais nada mesmo. e um vácuo estimulado à insistência é muito trabalho de corno pra mim.
disse não querer ouvir nada mais e iria cantar algumas músicas e desligar. músicas especiais de partida- grande ilusão achar que existe alguma musica especial pra morte: a morte é um silêncio de floresta com todos os bichos escondidos. uma floresta que espera tempestade.
tentei cantar uma, outra e mais outra. cantei só porque da fala já nada queria e da palavra “fim” pro choro é um pulo assustado, mal sucedido e manco. continuo não querendo falar. não obstante corri pra transmutar isso em um punhado de letras sentimentais encharcadas de  má literatura. fazer o quê? uns fumam. em alguns quem paga são as unhas e noutros documentar o inenarrável distrai. só isso: distrai.

a morte do segundo outro querido. vou dizer assim pra qualquer filho que tiver- sua avó dos olhos turquesas morreu num dia de calor sufocante e muitas estrelas. a agora falta de futuro  chegou depois de muitos presentes trocados. e penso agora também que a morte é o apagar dos futuros. contaria com ares de bufão in disguise que ela tinha um vocabulário Dercy. e compartilhava nessa comicidade uma  relação engraçada e fria com os sexos. cada palavra xingada era um acontecido não feito. suas palavras grandes eram o  seu não-lugar do sexo, e só por isso podia tratá-lo com esse cintilante desprezo escrachado. ah! seu sotaque! filho, seu sotaque era aquele chiado de r  ítalo-paulistano apesar de ser filha de lares espanhóis e por isso levar a insígnia “ Lola”. que Lola não é nome , é insígnia mesmo. tanto é que é emprestada a contragosto social às infantes sexistas que piram adultos covardes. não emprestam. as pequenas e espontâneas aprendizes de puta o tomam pra si como tomam pra si esquinas. Lola é título, não é nome. quê mais?


quê mais falaria... do seu gosto musical de repente o tango vale ser lembrado e as belas canções do jazz standard americano. quando observava seus olhos tocando os azuis do Sinatra, pra mim, só pra mim, parecia que daquele choque azul ela saia toda vestida de jóias e vestido cassino-gala. dizem com segurança assim ela ter sido há um par de décadas atrás. cintilantemente rica. e boa cozinheira. apesar de não ser um tipo prazeroso de se assistir fazendo uma faxina, por exemplo. de olhar dava pena das unhas. polida garra de senhora-dama mesmo descendo de roupas baratas a própria bancarrota.

Antes de partir- se é que alguém vem nos buscar- soltou um “ vai tomat no cú, que eu não vou!” e todos os deuses riram do seu escárnio glorioso. mas entre risos e teimosias decidiram por bem de sua dor levá-la mesmo assim. Foi em dia de festa naquela vaga e mágica hora depois da euforia trocada entre todos os  amigos ocultos e menos secretos familiares. Aquela hora em que tudo já está frio e  as luzes da árvore piscam insistentemente para o nada. 


era de sua casa o jazz
os livros
e o tango
entremeado de passos vestidos de caras jóias
compassado por seus palavrões
esponteado tão igual e solto
o vento batia alto na janela
onde cresci vendo pessoas emolduradas
as tristes e as felizes
e as que não tem carne também.
naquela sala em hora tardia
sobravam só os ditos adultos
eu insistentemente ficava no meu lá
cabeça baixa apoiada nos braços paralelos
travesseiro de testa para menino ouvir o murmúrio excitante
que eram as conversas dos que já viviam sabendo algo de temor e morte.
eu, pequeno, só existia
e era tão bom só existir!
até você aprender que algumas coisas deixam de existir...
 topa com a maldade do mundo
começa aprender morrer bem aos pouquinhos pra não doer
inventa lógicas que justifiquem esse cuidado todo
atravessa ruas
pensa o quão irônico seria
morrer atropelado ou de doença fatal qualquer
e principalmente quanta preocupação desperdíçada.
aí ficamos de súbito alegre que a vida é curta
e começamos a morrer rápido de novo.
ate doer.



se há música
é um canto de pássaro atingido por uma pena dura.
se há música
é uma gota de orvalho suicida cansada de dependurar-se
em verde qualquer
goteja final e morre poça.
se há música
é a trilha dos corações mumificados
se há música
ninguem ouviu 
as árvores piscaram
a comida esfriou
partiram as renas e trenós cheios de lembranças
que para sempre
irremediavelmente
parcamente
serão as eternas substitutas
do corpo 
do gesto
:
a lembrança é o lúmen do corpo subtraído o gesto
extinto o cheiro
de vida.









quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Pequena descrição de um filhote de lodo


Era um bicho das ondulâncias alimentado por tsunamis
e por viver no calmo fundo
morria de fome
mastigava naufrágios
palitava faróis para fora dos dentes
e rochas na saburrenta língua
vestia corais tanto no ócio
quanto calcário no trabalho
informal e simples
de vender anêmonas
negados os fiados aceitos
só no ultimo dia do mundo.

suas mãos eram de uma caricia placentosa
como o gelatinoso verde das algas:
tocava frio e colante:
turvava.

Sal


vapores baratos desmaiam no orvalho
ousado de verão
rompante de água caído
sobroso no chão
afogo de grama
:
há mais de um circulo de sal.

imaginário não-circulo
-fluxo.
que se fizesse
as linhas tubérculas
talvez não escreveria
um branco e preto-xadrez
fertilidade de pedra
encostada numa xícara
tatuada de qualquer arte
cansada de carregar na boca
uma maçã
com tantos cravos
quantos viventes aqui
de cada furo
uma vida
de rede epitelial
vontade
nervo
eletricidade nas veias
e osso.


deita na relva inventada
a vontade de potência
e o sopro de vida
o jogo entre os conquistadores do desconhecido
e todo índio que mora em nós
nos banhos nossos
de cada dia
no branco espanhóis
no preto índios
tudo de madeira
relutando anti-fogo
central que rejuvenesce
extraterrestres e alcolizados de qualquer tipo compulsório
 um milho preto sorri
cheio de vermelho na boca de trapo
Amy recosta sua bebice no ET
de dedo em riste par
a vela de um fogo
avermelhador de maçã
o fogo
o maduro
e fruto
longe do podre
dois senhores cósmicos
dizem um tímido oi
entre os dentes por volta
contando com eles todo olhar acusa
o crime q´inda hemos de cerzir
por nós
e nossos ais
deitados de joelhos moles
e cabeças em carneiros
do pulo e cerca entre o vivido e o sonho
enroscou-se fatal
num farpado modo
de prender com muita dor.


com lanho lanho lanho lanho.
lanho e sal
outrar arde. e lanho.
merci. o latte?
azedo bebido
do gato careca que morreu.
tudo tarda, gato.
calma.
tudo tarda.
menos a morte.
que chega de espanto
como um elástico arrebentado
a chicotear a cara
da vida que sobra.

Corrente


dou adeus às toalhas sujas de sangue
ao óleo derramado
aos incômodos mosquitos
minhas vítimas de aquém-túmulo
mentiras intestinais
meditações insones forçadas
navego pelo meu corpo em um baquinho pequenino
por entre sanguíneas correntes
onde cada linfócito é um farol branco
a me avisar de virulentas tormentas
navega sem vento pela maré vermelha
intensa
pulsátil
de longe sentimos nos pés trepidarem os círculos
nos agarramos no mastro mais próximo
e depois de temer intensamente os redemoinhos
lembramos por nossa própria sanidade
que era só um coração
e mais um daqueles marinheiros desavisados.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ao mastro com carinho

Bilhete marítmo achado dentro de uma garrafa quebrada:

"Querido meu,
não há amor por ti eterno 
tão só minha vaidade te abocanha e prende
como uma sereia morde o casco
de um barco vacilante:
pelo canto
até o redemoinho.

um abraço de mãos fechadas,

S."

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Hiato


entre o pio de uma coruja
e o tilintar dos orvalhos madrugueiros
canta Bethânia
olho nos olhos
tão só queria eu
um mínimo
cara a cara
lava a lava
rio de fogo encontrando beira de mar
petrificando basalto
meta-mórfico
lava a lava
mumificando terra negra
penhasco duro
pontiagudo
de onde me equilibro quente
respiro fundo
sei que a noite passa
e seguramente enquanto eu não aconteço
guio-me  pelos riscos de magma
dos sismos que me antecedem
racho
tremo
rasgo a noite
grito fogo
e amanhã
diferente
me sismo inseguro de novo
numa fenda entre mais de dois mins
alegre
aceso
de repente.

Repente


Pisei. Luz!
espantei alegre.
luz!
e tinha só pisado no interruptor da minha luminária.
imagina se fosse de verdade...
encontraria o sol
e infartaria antes de dizer
um obrigado por tudo.

Solidão


se essa ilha fosse
num espaço
seria um asteróide cercado
de vácuo 
por todos os lados.

domingo, 30 de outubro de 2011

sp

se pensas que no paulino fuder é são
talvez
a são salvador pense
que não
que não há amor
que caetano é um viado inexplorado
apesar de gemer alto e fingir gozar
e que não
não preciso cismar meus "ques", meus "es" e meus "nãos"
pelo simples fato de poder
ser o medíocre escrivinhador que quiser
porque no entre, no meio, no médio
intermezzo dos cochichos e o pensar
é potente o exagero do falho
fálico
mal entendido
nas geometrias psquistas
se acham que o problema é tê-lo existente
quando o que pica é a falta
sublinguando o fato de tudo isso ser gibi roceiro
de um machista tão anal quanto um consolo
é analítico com suas pregas.
tão raso.
tão fundo.
prostaticamente, analiticamente, fundo.
goza-se
e se esquece o método.
não.
não existe amor criolo em sp
pessoas chatas sujas de um furreca molho pomodoro.
odara era quando ilegal.
penso. não há amor.
mas há um criolo gostoso em sp.

Rainha de isopor


dessa vez
sem Cândido.
Valéria valia um vale tudo
surrada d’areia
e vento
           e gelo d’agua
ficcioanalizava sem intento narrador
naquele dia
a colega e fria Ipanema
o olhar jogado com os transa-untes
fazia pelos sis valer o jogo
 numa filia platônica que não penso junto falo
que tinha a alma boa (nojo!)
e digna
 bobamente escrivão de inventos metafíscos.
que eles não são.

nada.

pedra vira areia espancada de água
sem o mínimo de nós.
 mas por poucas ampulhetinhas de carência
Valéria valia tudo
 hoje.
os fogos de quando arrebentou sua mãe há 47 anos atrás
doloridos choros
centelha nascida
para Váleria valer no além-nós
oferta-se palavras
como numa feira de frutas só maduras e podres
pelo simples motivo de abraçá-la de graça.



Valéria valeu tudo
nos tempinhos de carência bêbada
festejando cheia de dentes
o nada simples  da São Salvador.



Valia tudo.
com todos os antitéticos clichês
não abortados
eu escrevia.
ela via. imanente. ria largo.
desenhava uma áurea sua inventada
só para abraçá-la de graça.
ou prendia ela em grafos-âmbar
ou perdia seu sorriso para sempre.

assim eu fiz.
assado você lê.
e já há mais uma hóspede no falso eterno.

salvador inútil


aqui sentado
sobe a criança
uma tortuosa árvore.

nada há de fleuma nisso.


passa uma gorda cult
e atrás uma legíão de óculos de acrílico.

nada há de íntimo mistério nisso.

só caio eu caiando um caeiro mal lido.
e ainda pior expresso
em algo que será nunca só meu e eu.

ela ventania só sopra.
exageramos eu
e a poesia
braba.
magia braba.

Lá.
alhures perto
uma bastarda irmã dá cordas a Salomão:


It protects

;

It heals.


e prossegue toda a algaravia pelo rededor da praça
sem ninguém desconfiar que estamos lá
a não ser um punhado de grelo-gente
que incomodamos por nossa falta de isqueiro e sobra de chamas.









escrevo eu bobo porcamente poeta
pelo exercício motor da humanofobia
sem brilho palavrar algum.





acontece.

Casa de cobra


Até você velho Zuza
iria no meu palpite bobo
soltar um oooh! grave
de dentro do seu suspensório
e não. nem eu. nem tua torta musa
acredita que coisas como a morte passam.
transam com o senso comum.
acreditam que passa
porque nossa dor incomoda
quem já é lanhado pelo ressentimento
de ser o seu eu mais mal quisto.
consolam.
mas não para estancar nosso jorro de dor.
consolam.
porque suportar o grito
dos outros
já é atear
fogo anti-alteridade nos tímpanos.
e vendo a gente chorar e rir
pedindo a receita pra isso
sem darmos porque simplesmente inexiste método pra sofrer
ficam bravos consigo
estendem lenços
como os antigos na roça cobriam poças
para donzelas dotadas quaisquer.
cobertos estão pelo que não suportam.
o dito “isso passa” para os que se amansam na apatia
por não terem conhecido
algo de luminoso como teu tu.

não. não passa.
vira folha caída. vira casa de cobra.
vira húmus. sedimentamos.
vira petróleo.
mas não passa.
uma única faísca
e incendeia um rio embaixo de nós.






quinta-feira, 27 de outubro de 2011

De pernas abertas

disse?
disse.
quem disse?
:
cissiparidade.

tec!tec!tec! tec!tec!

  scissors

      ssiparidade

          scissors

          paridade

           scissors

              ridade

           scissors

              idade.


cisão?
quem disse?
scissors.
incisão?


pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-picapica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-picapica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica-pica
venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta-venta--venta-sopra
venta :


esquizoglue.ESQUIZOTU.ESQUIZOEU.esquizonós :
esquizoblue.ESQUIZOELE.ESQUIZOELA.esquizovós:
esquizotrue?
scissors.
tec!tec!tec!tec!tec!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Lumen


              Fazia tempo não acordava com tamanho vazio ao redor. E dentro um vento denso e quente de novembro. Queria uma chuva de sol. Seu bom dia deslocado era um canto vespertino. Chegara tarde na festa, mas cheia de vida e mornamente humana, aproveitou para dançar sozinha no salão. A casa era um grande salão de uma festa atrasada. E silenciosamente podia ouvir a chama do fogão que esquentava água para um café de uma só xícara. Uma só xícara, uma só asa de xícara, pensou. Uma só asa de xícara era pouco para voar, tal peso era. Então tomou café duas vezes. E cantou mais alto. Um vento vagabundo lambia sua cara feito um cachorro festivo. Por uma fração de instante lembrou-se dos banhos de barril e seu suor sujo de escola. Por aqueles dias rareavam os motivos para uma tenra felicidade. Tinha as costas de quem foi dinamitada por uma tragédia. E não tentava se consolar com promessas metafísicas. Soletrava  t-r-a-g-e-d-i-a  e não colocado-por-deus-só-pode-ser-para-o-bem. Uma coisa lhe pouparia os ouvidos da boba comiseração alheia: daquela vez, pensava chiaroscuro, alguém ousaria falar que “essas coisas acontecem”?  Não. Algumas coisas não acontecem. E quando acontecem só existiam antes nos jornais e nas novelas. “Não isso não acontece”, pensava escuro agora. E algo de muito pequeno, uma pedrinha brilhante, rolava da sua boca até o estômago, fazia um barulho molhado. Alguém jogara uma moeda na sua fonte de ácido clorídrico e o acaso atendeu seu desejo. “ Não isso não acontece”, pensava pisca-pisca. Com tímido orgulho, sentia-se perfurada de imperfeições, tragicamente singular. E dançava pelo salão vazio. A luz entrando pela janela, sem bater no seu corpo, sem ângulos, sem desvios, permitida, carne adentro,  de um poro até outro poro – como ela era - diametralmente oposta.  E iluminava assim o outro canto escuro da sala. Sua alma luminária. Tragicamente luminária. Talvez houvesse entre um ano de roubos e aquele de perdas um vão espaço para sorrir. Ainda havia um grande motivo para gostar dessas noites que catucam a gente vestidas de outras noites que já foram. Ela era o motivo e sabia que para um grande motivo nunca  havia culpado. E prometeu acordar amanhã num horário mais conciliável com o mundo dos outros. Mesmo com sono iria cumprir o cabo e o rabo. Mesmo com sono ia enfiar um rabo no dia e dá-lo aos gatos. Daquele lá onde todo leite do pires reflete os ponteiros pretos do relógio que nunca deixa a madrugada em paz. As noites fantasiadas de antes, o cheiro das coisas guardadas e nossos relógios afogados em pires rasos de um sedento ressentir. Prometeu baixo, mas prometeu: amanhã seria um ela irreconhecível. Mesmo com sono. E apagou sua alma-luminária, se espreguiçou lentamente e deitada. Já era hora de dormir. Já era hora de acordar bem longe dali.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Caleidoscópio de histórias preguiçosamente inacabadas

Há aves no céu à noite mas ninguém as vê.



Naquele dia depois do incêndio, já cansada de ter fumaça no bico e toda se coçando de cinzas, resolveu se lavar numa poça já no caminho de casa. Se molhou uma vez, se sacudiu, molhou outra vez e deu de cara com uma coruja todinha preta e cinza. Como nunca tinha tomado banho, talvez porque nunca havia se sujado tanto, não sabia o que era um reflexo, nunca tinha se olhado no espelho.


Emilia era  pessoa que não comemorava aniversário.






Era uma daquelas noites grávidas de chuva. Noite tola, bem tola e gostosa. Tinha a esperança sentada em uma cadeira de praia em frente à porta de casa. Assim mesmo. Descontextualizada. Cadeira de praia longe do molhado. Por aqueles dias dormir era quase uma fatalidade. Demorava o sono e quando vinha preciso era agarrá-lo de vez antes que partisse. Afiou lentamente suas unhas, massageou suavemente suas mãos. Agarrou. E já vinham os sonhos. Divina era dessas que sonhavam cochilando. Tinha o raro prazer de ser assídua de um surrealista cinema do foco de si mesma. Mal fechava os olhos e elefantes já marchavam dentríris, ou sapos de longuíssimas pernas comiam panteras como confeitos de bolo. Nos seus cochichos internos de fato não achava motivo de garbor, apenas era. Seus sonhos apenas eram. Como ela era  : inseparável deles. Mas voltando a noite tola, grávida de chuva. Na cama, inquieta, insone, às vezes parecia crer que intuía chuva como se as pequeninas cãimbras frias do seu estômago fosse o chute do raio, golpe infante na barriga do céu a parir a chuva, fraca, às vezes, também tola, que viria. E tola não porque as plantinhas e os fogos demasiado ardentes do mundo não precisassem dela para arrefecer, mas tola porque em hora daquelas,  apenas um par de horas do seu duro travesseiro até sua alvorada própria, o cansaço de viver o dia conferia torpeza  a qualquer tipo de coisa. Ás vezes como uma notívaga abelha planta pólen em damas da noite cavernosas, vestia luvas de borracha e começava a remexer vasos deixados a esmo no canto da varanda.  Apenas um nome utilitário para o que viria depois de virado lixo ser transformado. Nada que coubesse terra jogava fora. Num canto ficavam os potes de maionese vazios já lavados. Num outro lado os de iogurte, margarina e latas de leite condensado...







É como se o mundo viesse morrer nos meus braços.


Sequei-me em palavras. e já nada pareço ter de semelhante. um vazio: uma falta de medo.  é chegada a hora estanque. chegou a ré, vira e volta.  Antigos invasores ameaçam, como se instalado tivesse o grão vizir da sua multiplicidade. O que alaga o Sudeste são os rios de nuvens do cheiro denso e aquoso da Amazônia. Voam rios e batem nas cordilheiras andinas para enfim, chover aqui. Nossa chuva tem jeito de sambaqui. Nossa? Quem é nós?  Se mal posso ser-me todo, desfuncional para minhas próprias multidões que sou.




Amora preta


Meu amor é um guarda noturno
e nunca
sol a pino chega
porque desperta sempre no tarde dos outros.

sábado, 15 de outubro de 2011

falta d'agua


saí do carro
um passo
dois passos
terceiro passo
quarto
olho
faltaria chuva pra tanto fogo
olho
tudo preto no preto
a parte de um sonho
carbonizado no chão.

contam curiosos
faíscas e línguas de trinta metros
contam jornais o caso certo
equivocando velhas propostas
sabemos nós agora
com quereres estalando ainda
quentes, retorcidos, fumegantes, indizíveis
que havia chegado
alado de fogo
o inacreditável dia mais triste do ano.

domingo, 2 de outubro de 2011

7


noite de domingo
na eutanásia homeopática
sofria  vão
de grão em grão
por um funil-seringa na veia
soterrava a alma
viva
de dentro do corpo
vidro
ampulheta
por onde pingam os dias
disso que chamamos tempo
que só é o tempo
do mundo
que dura em nós
a escrita dos afetos
           
                criança    
             praia
              graveto
               poemalavras
                risque-rabisque
               onda
            
                                                                                                                                          
                                                                                                                                      e fim.



pior do que saber
que não existem dois de você
nem talvez um que me queira
é saber que já existia
antes 
uma multidão em fila
rumo à câmaras de gás
tristes
anarco-suicidas
ciclista de roda só
circenses
falidas
órfãs do pai
que eu nunca fui
malogrado meu sangue
de muita doença de mundo
talvez seja
parte da experiência habitual minha
o formol
os vidros
e os fetos.

o cortiço
a penitenciária
a masmorra de pedintes
chafariz
esmolas
o abrigo das marquises
o salto mortal do livre-arbítrio
que irremediavelmente
cai sempre de pé
bichano que é
enxergando longe no escuro.

Asfalto


bate aqui a contragosto
um coraçãozinho instintal
que por toda pisca
pisca
vida
mais parecia um abajur
de luz amarelada
empoeirado
num canto de quarto de hotel
daquelas escolhas
em beira de estrada
quando temos que parar
para dormir um pouco
ou batemos
tombamos uma árvore
sangramos outros corpos com os nossos
corpos
estilhaçados no asfalto
quente do impiedoso verão
almas
amalgamadas
feito piche e areia
por onde se faz o caminho do acaso
até o porto do que não volta mais.

sábado, 1 de outubro de 2011

Banho de poça

por qual motivo os números não podem
ser
argila
de poema?

sim.


e a química
a física
algébrica
e mais todas essas esquematizadas
ao extremo
pretensões?


E por qual motivo
se há desejos de filosofar
são precisas as paredes dos asquerentos cômodos acadêmicos
se sem moral nata já nascemos isto?

cantam corações inchados
sem solfejar veias
e tão menos ainda
cantarolam
as próprias
belamente arredondilhas
hemoglobinas
soldadas férreas que são
mas lutam
ou ajudam lutos
e isso oferenda demasiado medo.

vocacionam em tediosos gramático-poemas
as dores de um tal ser
humano
e esquecem
sobremaneira
o arcabouço da Vida
que é
o
corpo-carne-máquina
berçário todo das vontades
como os mangues são para camarões
e outros bichos do molhado.

a maioria dos poetas
escrevem sob preguiçosos pés.
escalam de salto alto dunas
e reclamam do cansaço
quando no simples tudo só é
a ignorância que transborda
quando se aprende a galopar primeiro
antes mesmo de germinar a paciência
de colecionar pegadas de pé nu
como se fincaram no imagético as bandeiras na lua.

não basta montar racha-cabeças de mil fonemo-peças.
deglutamos as peças!
caguemos combinações amorais do verbo!
transformemos caixas
-pois isso as palavras são, caixas-
em ânforas
anfíbias
as pernas longas
de um potente
corpo
frio.


mas esse chamado de nada novo tem
já contruiram o concreto
erigiram o otimismo moderno de ser nacional
futurizaram letras com barulhos de engrenagens
desconcretizaram
fragmentaram o moderno num niilismo
pós-qualquer-coisa
mas sem saber de nada disso
comida podre cheira nas escolas
áridas
e de bactérias e corrupção
in bucho
os pequeninos
do cosmo múltiplo
tudo os fazem
ignorar
e pior:

as perguntas têm a hora marcada
que é o tempo de ver
um dedo levantado.


há muito fogo nos poemas
e muito ar da parte de quem os lê
e sopram
como sopram lareiras
quem enfeita a sala de fogo e madeira
quase nunca
com tanto natural frio
assim.

o status da estética do quente
que despalida qualquer reativo discurso
com brilho de fogo de lareira.

falta nos poemas a amoral água
que surra a terra
em ondas
sem culpa.

falta o dilúvio que limpa
a vontade da preguiça
de remar
falta banharmo-nos de caneca
quando se rompem os diques prévios da tola proteção
falta coquetel de chuva sem guardachuvinhas
falta menino moço pelado em chafariz
falta beija-flor
e sobra canarinho
falta telefone sem fio de concha
nos faltam cascatas afogando cílios
falta cheirar o limo lacustre sem nojo do feio
escondido
sobram molduras e faltam os espelhos de água suja
faltam já as mangueiras no quintal e banhos livres
e verões
abundam iansãs
a girar convulsas
faltam
iemanjás de carne
falta ostra limpa
faltam mexilhões limpos
e quase já
quase
inexistem
as pérolas
mergulhadas
em honestas
pro-fundices
faltam os peixes nas vísceras das famílias
onde apodrecem bois marinados em azia clorídrica
faltam fontes esporrando leite translúcido nas pedras
e nos livros
gavetas de vaidade mofadas
sobram motivos tediosos que desgostam
as pequeninas vontades infantis
de brincar de livro
mergulhar
e canibalizar tudo que há
de mar e verde
sem serem colocadas para golfar.

Russopiniquim

Chega devagar
em flores ainda novas
o sábado.




céu azul
garrafa russopiniquim
desmamada 
vodka
volatio-folia
fólica fosfórica
ela chega
ensina maisena
com leite e som
atomístico
composto-áudio
ressonante
mandado
para a centripedação
do dissoluto
lúmen-som
confissões dos presos
longinais
isolados
em nome marcado fraco
fino papel
das recomendações
conservativas
da civilidade
rabiscada na parede cinza
a normatividade cumprida
dia de sol quadrado
pós dia de sol quadrado
o hieróglifo da solidão
amarrada sentada
amordaçada
nos cantos penumbrosos
da masmorra alegre
chamada mundo.

intacto.
falsamente intacto.
eclipsado.
para os ignorantes
de cegueira quista
palpáveis
escolhas
de um domingo
nada além
de sentar-se
refastelado de família
e boa culpa.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Incapazes

lito-homem
incauto
inca
pintado
de ouro
e cochinilla
pilhado
tudo
deixada
a vazia
violência

cidade constructa mezzo-pagã
afora
os sismos
enganchados tetos
das pedras angulares
para estrangeiros tíbios
desemolientados
como yo
quedarem aterrados
no desembriagante
pisco.
farol do morro
me despisto
desabito
e me desço todo
vulcanicamente
descontagiado
de antigos
mins.


no alto









soroche
relembram
suas linhas pédreas arquitetadas
toda
nossa
falta
de sapiência ancestrã
desveladas sombras
e sóis
mostram rostos severos
abrem portas quadradas
movem águas em faíscas secas
e urbanizam até a ausência
de ar
óxi – gênios
que ainda
são.
e nos é legado
depois de tudo visto e apreciado...
a melancólica condição pós-burguesa
do nosso d-eus tão só
incapaz
de qualquer solaridade
que seja
e de opaco contagia
para não sermos nem lua, nem puma
tampouco condor
sem asas nem somos
cometas faiscantes
nada
um punhado de aprendizes-alpinistas
estrelas cadentes
lusco-fusco
suicidas.

E(x)quilibrista de carril

às vezes quando penso em alguns seres cuja caminhada compartilhei vem o sopro da certeza de melhor ter desandado.

do trilho, eu: descarilhado/apitando uma fumaça-alma/ meu trem./partido e rachado : de alhures, trem o ./ sem freio. mais
rápido. : re- parto. de mim. nasço o outro: maquinário.




















eu trilho
tu trilhas
ele trilha
nós trilhamos
vós trilhais



se
eles não trilham:
trilhemos nós.











sóis
são vós
quando desacompanhados.

Liturgia pirofágica do só

a solidão de um quarto de hotel: o prenuncio do querer ser: de fato: estrangeiro. quando na própria terra é o que se é -brincar de ser- já nascido: isto.


um querido : Respire-se.

eu quisto : res- pirofagia. um soluço :
e me queimo dentro.

menos querido: - Grito contido, que força tens?

CORO : se grita com os olhos se a ocupa com soluço.
a força tem onde reside a voz : o ritmo do grito.

TODOS JUNTOS: - " ___________________ . "

CORO: ???

eu quisto: ! : ∞ .

domingo, 4 de setembro de 2011

Avoa

Avoa avó:

epopéicos fragmentos de um convívio ancestral tardio:

até no verso era mentiroso:

a verdade foi excluída do mundo

-dizia ela vestida de fucsina nos olhos-

na rua é tudo igual

pendura seu filho na parede

acaso seja santo

o que quer que ele

exista.

O rancho do poço

sandália azul

casa de alça

do pé podre de preto

perseguidor de amoras

e outros afetos silvestres.

Virgo.

Angelina;

Leo.

poldo

multípode.

Domingos

cheios

de frações de horas

suicidas

Tios

Luises

opacos de fomeza

rancho

sem interior

e para ela

sou o dono da razão

sempre não legitimado

pela traição do meu instinto

fibroso.

sempre um eu aqui

transformando furacões

em sacis de roda aérea

aprisionados

nas mensagens

agramáticas

do afeto

desgarrafadas.

domingo, 28 de agosto de 2011

Hieroema

corpo vazio.


o sangue
preto
do mangue
escorria
adentrando
alevinos
gorgônias
maias .
dizia a avó
depois do noticiário:
é só diabrura.
disse também que de gente feia
era o que mais tinha dó.


na proto alquimia
garimpo
de
linguagem
caem da lôgo-batéia
pequeninas pedras
para afetos
depois de ouvidos
registrados:




gorgônias
alevinos
maias
hibernáculo
inocente
nócuo i
nocivo
crueldade
fucsina
coruja
cor uscante
reluz ente
olhos





funestos
hierofantes
lu éticos
humanocômios
sulfurosos




ou seriam runas?
de um povo
que sou eu e você
e outro
também do outro
lado
para onde partiram naus
de loucos, gagos, afônicos em remos
comandados
à uma lodosa ilha
garimpo de palavras
cinzas
quase prontas para de um vagabundo
metal
pela já não culposa
desrazão
alquímica ser
o que deve
devir ao ouro
negro
ser poesia ?

Flamel ---------- poeta
alquímico --- --- - - Drummond
numa regra de 3
qual dos 4
sumiria em X
para que repousasse nossa garganta
dormissem nossos dedos
- fantoches de gestos que são-
e dançasse nosso corpo
a poesia toda
apócrifa
do não-dito?





( nos amaríamos todos
acaso dançássemos
i-nocente-mente
nossos particulares
hieróglifos ? )







quisera eu escrever um cheiro que dança.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Inventário da memória-estalinho


Obaluaê até então

favorito

até o portão

de qual morro?



essa minha memória-estalinho

de chão cru

marrom

junino

ceiávamos cocadas

em altas igrejas

onde podíamos rolar as escadas

sem nenhum queixo quebrar

ou rir

noite a dentro

criando personagens

para todas as nossas surpresas

terem cabeça

mão

e

murchos

de tanto banho de banheira.

.


nosso canto limpava as retinas

a aceitar a feia Guanabara

paisagem-poema


.

seu retrato pintado de mim

jaz

z na pedra

e estrelas

muitas estrelas

porquanto juntos

tínhamos braços longos

inéditas músicas

beijos em construções

subida ancestral Favela

nossos vermelhos barracos

íntimos, pulsantes

tinham vista para o mar

e à presidente Vargas

dávamos de ombros

que de alguma forma aquele rosto

molhado na caixa d’agua

em pingos

empoçou uma expressão de êxtase

que tempo algum seca.


um dia

nossos netos hão de se questionar

profundamente

como

em literais ondas

fracas

quase

a

f

o

g

a

m

os no seco

e depois de contada a história

só um de nós irá rir

porque o conto diminuído ponto

do vivido

perde demasiado

graça

e morre .


o poema chega

e já vamos.

quando a morte

fantasiada

chegar

toda

via

vacilantes

caiamos

sem quedar

sinalizemos

de longe

um na proa

um na popa

qual vento de vida

porque se esse poema já chega

assim

é que algo soprou.

e já vamos,

já vamos.


.(caiando).

um branco mangue

berço de outra coisa

para além-nós

reticentiados.


sábado, 13 de agosto de 2011

Cabeceira

conhecer a metritude
aumenta o medo de abismar
e não são a maioria dos abismos
sem vertigem
covas rasas apenas?
lê.
a placa que for
mesmo sem entender o mapa
de todo pouco e diverso
tudo quanto sabe
pouco o instinto se eriça.
Epicurioso
e seus gatos de uma pedra limosa cantarolavam:
pior não são as traças
devoradoras das páginas que se acumulam
nas alfarrabonóias do saber
mas os furos no instinto
de quem guardou a alma
na cabeceira,
dormem lendo.
e não sonham.
miau
miau.
...
?
-miau-

flor do amargo boldo
roxa de cair
em cova rasa
estilhaçadores de bússolas
os que matam a intuição.
ou por prazer espremem
joaninhas.
no final, dizia Epicurioso,
dá no mesmo.

Bole-bole

Qual o tempo no corpo?

Qual o tempo do corpo?

Até jogarem uma bomba

atômica

no Aqüífero Guarani?

E fazer chover

gota de terra molhada,

tétricos pingos criptônicos?

Aí quanto de tempo no corpo?

Ou o quanto de seu corpo no tempo é o que duramente dura?

Até os biopiratas, falidos, levarem corpos cari-ocas

e mapearem genomas da gênese procrástica

do afamado jeitinho brasileiro?


“Você passaaaa dissipaaada

na fumaça do teu orgulhoooo...”

canta presa o samba

uma animada e já sem roda

velha ararinha azul

num bole-bole sem fim

enquanto isso...

nos palácios da injustiça

já descolorem-se alvoradas

e alguém perifericamente longe

grita gol

com muito

eco.


Poema anti-alfarrabonóico

O existir
anti-alfarrabonóia


prazer

----------------------------entrevivido----------

dor



o gozo dos sentidos
ou
o prazer anímico ?


“tudo junto” - dizia o dono do banquete
“separado” – pedia quem pagava a conta.


o gozo dos sentidos
ou
o prazer anímico ?

“Alquímico!” – dizia quem estava muito ocupado
em viver para comer
alguma coisa
de só dor.

co(r)po

O corpo
zoológico em guerra
do micro
protobactofungo
dessa doença-de-mundo
mundosmose
e de luas
em lues
já dizia o senhor Wiki :
“As espiroquetas são bactérias em forma de saca-rolhas”.
atentamente
fingimos
ouvir.

uma taça a mais
e avinagramos por dentro.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

axi-cio

ataraxia?
a tara
que cia
o axial
poema
walyráxico
cia?
só.
cio?
masturbo
sinapses
:
escrevo.
cia?
não

sem cia
cio.
axi la(´)?
também com cheiro
cio
sem
ser só

as cias ciam
as deles ciam
o cio
e
só.

matildino insulano

falam dentes
sem despenco
num sorriso
neto de puta
paraguaia
boiando
profilático
obalueices
beges palhas
titube-canoas
encalhadas no asfalto
vista de horizontais sóis
na ilha que governa a dor.

ilhas de palhas que bóiam
acasuísticas canoas
banana anal
banca rios
money róooo
cá cuia
gal-leão
gel que há
tal
a
freguesia
guará
boom
do cocô que está
a duzentos
metros
dos jardins
da guanabara.

e boio na merda feliz
temendo terremotos
que espirram lodo
na cara do neto de puta
que vos fala

rrrouca

ah, Billie
você
do espancamento
à cara limpa
e força para
dizer
que dói mais o hematoma
do que
o soco

porgy outonal
em Nova Iorque
é o dinonísio trágico
do lundu negro
virado
afirmação
divina
o grilo
esperança
-só que é-
deveria
por um além bem alhures
por um além mal abrolhos
ofertar
à rouca cigarra
o espaço seu

exaustão
gravalta
baixoca
altura
do
seu
safado
som
partitura-luz
de quem carrega
velhos vagalumes na garganta
se garras dos anos a ferí-la
sem contudo deslustrar
teu corpo ossudo de madeira negra
quem há de contestar seu feminil servil
diante de tamanha cara-de-pau?

decanto morto

E Cândido se perguntava
como retirar o que em pedra
já era ferida-ranhura
deu-se conta
por dez colares vendidos
e um cocar
coroa de penas
rabiscos já
esfero
gráficos
rasura
num renascido coração paleolítico
armado
por um medo de abismos que eram degraus.

de cima dessa escada
babada de saliva
escorrega meu silêncio
pra ti agora eterno
porque quem vai
vai
sem abanar mãos
sem deixar que se levem os dedos
instrumento do gestual
mão-palco de fantoches
mudo cinema de panos
e se na sua cabeça grossa
ainda alguma mora
imagem ou cheiro eufórico
meu que seja
que tudo se queime.

visto meu dedo de Alfredo
queima paradisos, cobras,
cruzo espelhos desguardando luz
se para o vidro
minha alma já é demais porosa
reflito-eu
convirjo raios
cuidadosamente em um só ponto
queimam-se os filmes
aodorados combustos
porque o subido em nuvem
orgonolépticos mofos
era o que de ti ainda havia
morto corpo pregado
decantado
do fundo do pouco
achado capaz de mim.


Agachado dentro de uma raiz
arbórea dizia Cândido sobre bruxas:
é que pra mim ela é quase um amor fatal
em vez de pedra num anel de noivado, um escorpião
pequenino cristalizado
cauda dentada :
escorpião-âmbar.

domingo, 24 de julho de 2011

Ao anal baia cú

prato do dia:
fatal baiacu
a preços
pop
u
lares

já tinha o urubu comido
o peixe
subido
de cima caiu
bigorna
preta
de asas
segundo
a covívia
gente


se não estiver fatal
está gostoso
convidava
o corvo
a comer baiacu frito
descansado no papel
higiênico
pingava
assim em poças pequenas
todo o
óleo
soja
da
Pagu-sementeira
tomou uma surra
ardida de colher
comia no banquinho
porque sem cadeira nas costas
exercitava seu centro de gravidade
ou se acostumava
com a ausência
dele
?
bobo que só...

II- corpo elétrons

fazer

o quê

se nas barbas



brancas

penso

eu ainda?

branco.





fazem

amor ido

2 anos

desde nossa

atômica

compartilha

te vi



quando

numa fila estava

tu

de rosa

e um cabelo amarrado

que gracioso

erro



a

prévia

do

teu

oblíquo

sorriso

vício do meu dito

sistema nervoso

central

tu

corpo-elétrons

de afeto desaprendido

diga você

agora é

tarde?

temo que seja.

e vivo

à beira

do limiar suportável

que é viver

o resto

já tendo

te

à ti

frio

trépido

tu

provado





do meu gim

na janela

hoje

sobra lembrar

de todos os deuses

que invocamos

naquelas chuvas

alagadas

Resende

Mem

Riachuelo

por toda

Fátima

voltava eu

pra te ver

magro

de saia

quando ainda o ressentir
mistura
festivamente
tu e teu você
nos seus rudes
separatismos
aprendidos
gauché

À margino-diva

Viver é a exceção do pensar e não?
.!
.?
.?
.?
-
.
...
Cadê minhas letras de rubras nuvens?
O frescor de quem acabou de receber uma catastrófica notícia
– a expressão do desconhecimento :
um entre rir e chorar no mesmo rosto-tábua, quase cínico tamanha ingenuidade.
Do dedal, um fantoche
adorno de adeus
com rostos
e
corpos-lûmen.

De ter ido
de vez
as pernas
trêmulas
da voz
forçada de peito
que era
o lixo
deixado
que só ela mexia

ela
aguda

e tivemos
que quase abrasarmos
nos (´) em déca
das
entes
esperando o subúrbio
grave dela
não aprendido
feito
Iansã
que só decide cantar
no cinza que varre
meu gim bebido
era você
enquanto dormia de vez
para reacender em final
escândalo
sua presença
que será pelos infinitos marginais afora
nosso espectro de partituras
ido
favorito
adeus à tua carne
margino-diva
porque por aqui
está dificílimo
descansarmos em paz...
morrer também dá ressaca.

Dos navios e ãncoras que dobram

por aqui a noite
anda agachada
para não bater
a cabeça nas estrelas
e quando distraída
aliviando joelhos
estica a espinha
toca ela
o sino
à meia-noite
a pino
a sinus
seca mucosa
variante minha
maré
dentro de por certeza também minhas
mais que o tempo:

bochechas.

levo amigos
em navios-estátua
de inércia flutuante
cinza Londres oitocentista
só minha
e dos meus
árvores de mangue-bosque
velam negrices e armas
a fuligem dos mares
eriçadas doces as sinapses
já plumbeia um tempo
cuja única garantia
é não perdê-lo

lá quem chora
são as vistas grossas
e o esgoto nos fala de algo deixado
boiar além-nós
sem saber
das descargas o trajeto
há quem não veja rio
no alívio sem titubeios da água podre
para o mar
há quem não veja
rio
com as aves do céu à noite
de todos os cantos anônimos
que ninam as morais
que só encontram ser
propósito
na invenção de robustos opostos
que justifiquem a boa vontade
do heroísmo gratuito
dos bons
dos ascetas descontentes
da vaidade identitosa
aromatizada
artificialmente

o portal criado
do lodo ancestral sabido
não-lugar da falta de arbítrio do tempo
aquela praia da Rosa
nome de pessoa
ou de flor
de rosa só tinha
a lembrança de outro suportável olor
que distraísse nossas violências
espantadas conosco

por debaixo
onde só passam
afeitos e amigos
porque lá
nessa excusa Londres estaleira
estalada
fazem pequenas casas de reto teto
num lodoso naturo-cortiço
pequenas e grandes vontades de matar

o tempo
virados os pequenos barcos
faz do espontâneo afogo
ampulhetas de água
sem remo
e areia

insistia ela
na rosa
em contar o tempo
até pô-la na cabeça
e livrar-se de qualquer ajuda

espremido o corpo
entre mim e a parede
nada foi
ao exorcismo
apesar de virados
os pescoços
vomitados barcos avolumavam o peso
a naufragar sem maiores contrastes
como algo pródigo retornado
na lama esgoto
bosque-mangue
sem deixar pistas por onde andava o tempo
as descargas e seus trajetos

tudo fede

rindo
espremido o corpo
entre mim e a parede
nada foi
ao exorcismo
apesar de virados pescoços
vomitados barcos avolumavam o peso
a naufragar sem maiores contrastes
como algo pródigo retornado
ao esgoto-lama
reino da velha Nanã
quintal de Poe
bosque-mangue
sem deixar pistas por onde andava o tempo
nas descargas dos trajetos intuídos
pelo seguir das pegadas
em denuncioso movediço
lusco-fusco
echarpe fofa
da já afônica
noite

tudo fede

rindo

ali vi mais-te
amiga
a outra
vi tonto
por mezzoentre
estátuas marinhas de ferro
vermelhos leitosos cinzas
e longes tochas da baixada
teus olhos de muletas
inocentes
quando de teus pés subtraído
esse tempo-tapete
voador
vi um tu só corpo e medo
de ser espaço
sem ponteiros
tu
em gracioso
vulnerável
rosa-porto
das âncoras maleáveis
origamis tetânicos
das partidas
à nado
das almas-leves como as tuas todas
Titãs
.