terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ode ao hieroema

METÁFORA
METAMORFOSE
METAMÓRFICA
METACARPOS
DE LAVA
ferradura
trem
fósforo
lacraia
carnaval
motor
felicitoso
anelo
anal
casulo
de falo
te falo
o
novo
nem tão novo
porque colcha retalhada de punhal
no que dormimos
portal de sonhos
ração da imaginação-bicho
o que o bicho imagina?
creio que nada.
é cheiro
cio
garra
e sangue.

quero o
HIEROEMA
o poema-gesto
o aceno
o cumprimento
o olhar aquilino
e o não medo de matar!

o punhal desenhado no quadro
a palavra genocida
o não trato entre os que não são meus
nem de ninguém
porque acaso
turmalino
que desvia o querer
pra ter
o que se tem.

a tragédia cantada
o teatro mudo e barato
a praia seca
e a pedra limosa.
cantemos juntos!
NADA É PRESENTE.
o presente é o amigo oculto do acaso quando não há natal!
quando nada é nascido ainda.
O presente é só placenta do futuro
e indiferenciado cambaleia entre o já ido e o querido.

O presente é o laço desatado da ação!
E se não o temos
será a realidade só uma história rememorada por muitos?
um tecido de balão esfarrapado
com a bucha incandescente do nosso desejo de ter estado?
afe! isso cansa qualquer passada.
do mais
o melhor é tomar banho de mangueira.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

XII

    a poesia
                      é
                      o
                 SUSTO
                difamado
                     no
                 PODER
                                                                                sOBREs-



saltar

porque.... fluída....


m
a
r
í
t
m
a


PLACENTA-CHORO
 cor
VERMELHA
toda
VIDA
imaginativa.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

!V

o fardo turbante
tecido
cama de cabeça
o balde
e a água roxa nas escadarias do bonfim balançavam
as palmeiras reféns de vento e altura
acotovelam os brancos para a margem
da margem da roda outrora muda
outrora caçada
nos tempos negros animais como
tinham em conta os demais
palacianos de cana e tieta azeda de solo ruim.

esfarelam os corpos da fome vinda com o sol
cegonha magra
caduqueira de rapina sem bico de caça
e fugi
fugi
quando li alto o pensamento
do raso outrem destrator.



II

cria não
que nos quentes dos dias desde
a quentura da medição inventada
viria simples e de brisa esse amor
orvalhador de árvores lago evaporado
cria não
que evitaria os bandidos, os de serem bandidos por facileza
não pelas morais heroínas
não por medo dos tiros
dos gatilhos
mas porque em mim benvindas as balas
amálgama turmalina essa rocha que carrego no sangue diluída
imã de tempestades
comida fria que sobrou
em mim vêm os perigos
costas enfeitadas de tufões e sal espalhado
rajado no vento
o que sobra da água marítma
quando o sol expulsa o molhado
e dá vida ao sal grosso e brilhante
espécula salitosa impalatável
lavante dos pés andarilhos
mortais de indecifrável estátua
expulsor dos ânimos perfidios
repelente do preto áureo das  máscaras
desvelo de toda beleza marital do acaso!
máquina de lumiar os não-esperados
grãos polidos de sódio e vento mão que gasta
as formas ideais do bem quisto ontem afundado
em estátua, pedra recortada,
nasce nos quentes dos dias desde
a quentura da medição inventada
o novo país
delta de nós
porto petrificado no mapa
terra fértil das ampulhetas brotadas
imã desfazedor das diásporas da dor
chega você outro
paro eu outro
e nos mesmos dedos
nas mesmas mãos
brilha o anel eterno do nosso amor salgado
porque corpo desejoso
  elétrico que voou.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ode a Olinda

a vista arrebata
eu de sol, sal e mangue
amarelo dissipado no amarelo
Forte de Olinda!
Eu-farol porto raso de nós
construído depois do esquecimento.
Recife, flor acesa do mangue!
Brazuca Veneza-aerófita
E laranja
Lama minha lavada de preto!
Deixo aqui o andar
                        para trás
apenas aos carangurejos
costumeiros de sua casa-casca dura
                         e ando pra frente
                          pra frente!
farol de pés que recuam nas marés
                          pra trás!
                          e profundo
como quando o mar se engole
em tiros de vento
cuspidas as pedras
umas contra as outras de onde se parem verdes praias
Abrigo flutuante!
A ponte dos estrangeiros!
e aqui minhas exclamações ficam mudas
aqui eu
daqui alhures
sou forasteiro em todas as histórias inventadas de mim
em tuas terras pequenos milagres
entrelaçados do negrume de terra que é a vida
do negrume de terra que é o caos
do negrume de terra que é beat e ciência
e me sinto as nuvens
forasteiras também pairando
sobre os tubaróes sem sabê-los
voando sem saber-se
porque antes água-ar que ficou.
Olinda! Suas terras altas salpicadas de cruz!
Ama de leite de todas as Clarices!
Forasteiras as nuvens.
Forasteiras as ladeiras!
Forasteiro o farol recolocado!
Forasteiros os tubarões que comem lodo!
forasteiro eu
de alma alhures e mais amarela
porque agora também pernambucana.

Porque agora meu fim é um risco  de riso na face lodosa do mundo.

Terra pintada  pirateira!
Saqueaste o pesadume de mim
e me sinto Olinda
profundamente agradecido.
amarelo, laranja e de um preto naña
 e véio cheíssimo de suja luz.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

XIX

Pequeno grão, pequeno grão cintilante!
mal tenho forças
O tempo estica duro o arpão de fogo
e  saio de mim batendo a porta quando volto
vestindo trapos mal reconhecem
a quizomba doida
do teu veneno cheirando a perfume
vidro sem boca do teu álcool frio
que entorpece a cabeça de lua e fome
pés. tenho pés.
e o entendimento do cruel humano
perversão dos túneis de mina sem ouro
mancha  do teu desjejum derramado
sangue vivo
sangue morto
sangue com poder
 matar
mãos. tenho mãos.
doam vida a suspeitos mendigos
 o horror da tua bondade
denúncia dos  gestos tortos
 mentira muda que transborda entre teus dentes de limo e pedra
o escorregão
o vacilo
a dança errática que leva seu nome impróprio
o afogamento em terra firme
 arvore  rio abaixo
vontade rio acima
a isca mordida
anzol de prata dos peixes
que mascam navalhas

 descrente das palavras
incendeiam  aldeias desavisadas
morrem os amores de carne viva e fumaça
vejo mais o todo
o aborto espontaneo
alma de feto revolto
atravessa tosco
podre boneco!
da privada ao mar.

II- Dos fragmentos de Anne Miller

A estima do arco distendido. A distância proposital do golpe. Para melhor fluir o encontro- dizem no oceano-  melhor sempre podar tentáculos. Talvez o encontro se faça só. Porque quando se está cara a cara jamais se está corpo a corpo. O prazer livremente conquistado pelo instinto nunca é rostidade.  Dispensa toda essa Identio-fellatio-urbes.

Talvez renunciar mesmo coroado ao evitar do desprazer seja aquela escolha que já não é escolha - é sopro do instinto. é pré-selvagem. é nada atávico. é luz e brilha sem medida porque etérea. Étérea a noite dos desacordados. Mágica e fantasmagórica toda máscara que derrete sob o sol do dia! O irrefutável clarear do dia. A nova lembrança do branco após o conforto tátil da noite. A pele sempre costuma dormir no escuro. As corujas - acordadas- possuem sempre penas. Talvez por saberem demais. A falta de pele nos faz insensível demais ao conhecimento.  Insensibilidade circular onde faz casa  o acúmulo.  Tanto mais narciso mais retrô. TANTO mais objeto mais passado. - se a busca pela objeto é sempre no mínimo a busca pela segunda vez - pela segunda manifestação-impressão do objeto. O desconhecido é jamais perseguido. - é jamais sonhado.: por ser o mais temido. E dormir seria apenas uma sucessão de traumas desacordados. Quando a ciência da memória como fraude emerge é precisa a recomposição do corpo tamanha e rara que só abarque o também raro momento do silêncio que nunca constrange duas pessoas sozinhas quando não há encontro. Quando só há espelho contra espelho e tudo passa. E o susto do sol quando bate em coincidência com duas coisas que nunca se vêem. Talvez distraídas com o brilho do mútuo reflexo.  Por tédio começariam inventar histórias do dia dos dois sóis. E emergeria a religião dos seres pequenos de cada lua em tantos planetas descobertos.

Dos fragmentos de Anne Miller

A suspeição do hiato entre o inevitável já vivido e a herança do contraste. As grades e os ferros . O dia insistente no começo de seu brilho - ainda convencendo as árvores a se balançar. Ainda pedindo desculpa para a noite. Ainda riso invertido. Pede sinceras desculpas ao revelar à noite seu próprio e indizível branco final.


Faz pose de esfinge para os descrentes.
Palita o dente na mesa com urgência fingida.
Aprende traços de humanidade perante a invenção de todo desastre.
Aprende traços do divino em toda ritualização de si. Exclui-se os impulsos dos demais narcisos. E os de menos pois já deitados escravos.
Aborta assassinos de fetos que julgava não ser criança.
Palita o ouvido com algodão e dor
Suspeita ter um olfato fardonho.
Nunca foi a primeira escolha do grupo nos jogos de escola.
Ah, os jogos de escola!
Exato nesse dia suas palavras tinham sempre dor de cabeça ou vermelho fingido nas pernas.
Seus dentes eram erráticos e no descortino, ponto final.
Força que pede desculpa pela prostroza feitura de imensa beleza cantando junto com o susto das pedras mudas mudo e cinzas : estorpor das ondas que são e só são, e revoltam as máres.
Moças confinadas no lamacento das conchas petreamente , perpetuamente, condenadas a viver no susto que dá todo tamanho da lua.

lembrou de quando as estradas hospedavam o pedintismo viciado em esmola como um puteiro acolhendo astuto putas viajantes. era freguesa a neblina mais que todas. e todas as pessoas que decidiam ali parar pagavam a concessão do medo pela agua ceguenta quando fumaça. o vapor era levemente o fatal acaso concedido no retalho feio dos vestidos que poupavam as acrobatas, os palhaços e os anões da nudez ridícula.
e lá estava esganada de vapor andarilho. tomada pela salvação memoriosa, lembrava do sorriso de quintal de boca o medo das mães e tias quando imaginavam o que a juventude era capaz de fazer crer sumir aos ditos responsáveis pela sua integridade corpórea, fome e infante suícidio. o desertor moral de nome e mapa. fugiu com o circo!  diziam as inimágináveis putas comidas nos instintos dos mágicos de grandes cartolas.
me finga serrada!
me finja serrada!
e eu me minto  imperceptivelmente inteira.
comendo coelhos pra fazer sumir o que não nasce no chapéu.

sentada numa pedra de agua corrente feita fonte guardada pela pedra-estátua da santa pensava torto e quase doía.
o estrangeiro que a comia viva no mal quisto claro da noite a desconcertar um ruído sem nota que espancaria de vaias qualquer aplauso que abusasse do silêncio. Agracem em gesto cordial cientes da ineficiência do palavar sempre concordado em respirar entre todas as apropriações que esmagam o previsto.
coçava o cabelo cheio, úmido e espantado. cheirava mais água do que o rastro de tudo que a gente - como ela : gente gosta. e no fundo. bem lá no fundo. quase afogada pela mentira da timidez, brotava flor inibida e rebelde verde no muro-testemunho dos cortiços.
 quase noite vendida as frutas e tudo que conseguia mentir tentava lembrar como se soletrava o nome da volta.
 já muda e rouca por dias deitava confortável o cansaço na aspereza da única garganta que tinha.

toda chuva veio como era de se imaginar o medo dos confundidos .

domingo, 6 de janeiro de 2013

Zanga-bar

linhei a agulha torta na máquina
e bordei o avesso do dito.
atiradas as ninharias contra as espectro-faces
cavados os redemoninhos nos pequenos mares de copo d´água
gritei nome com boas vindas
culpei a terra pela aquática distância
destronando cachos da cabeça para tanto nada.
ah, se tivesse vergonha e culpa
envergonhado e culposo quedaria
catando pedras e bolsos para me atirar de roupa
no rio que embarca meus malfazejos gestos.
:
diz a voz abuelita não ser esse o alimento da amizade
.
que valha essa tola hecatombe carente!
mesmo o cruzar a porta tendo nascido tão afetuoso
ao ponto de chamar a despedida do espelho meu de cruza troca!
lamento esses transbordos e alguns dos 12 uísques.
sinto ter jogado meu filho abortado nessa privada que nem é de vocês.
entre essas flores madrugueiras e fechadas
perdura o amor meu pelas presenças suas
e sei que mal me cabe o amor por mim
exercer esse parco amor
e amar sem algumas pernas
é essa chegada tantálica que não me deixa.