terça-feira, 8 de setembro de 2009

Solapar

A lâmpada por trás da hélice

mal ventila, pisca-pisca.

Frenética iluminação,

quantos já deve ter hipnotizado

no pular e no cair na cerca?


Uma porta verde e um telefone vermelho

-se precisasse de socorro não funcionaria.

Tento dormir no meio do canto de Ossanha

Solapo a Lapa dormindo dentro dela.

Convido-a para para os meus sonhos.

São labirintos e ela gosta de profanamente se perder,

imagino essa tarefa com certa impossibilidade.

Erroneamente bebo

a chuva que tardou

a dois dias para findar maio.

Termino onde comecei: na Lapa

Agora só.

Dormirei desconfortavelmente só.

Mas afável estou comigo.


Desembarque

Desembarquei de mim.

Depois do credo e veemência :

não era mais preciso ir às alturas.

Anos passaram...

Enferrujaram-se os binóculos e o resto metal.

O subir apenas pensado já cansava.

Titubeava entre alçar velas e sentar mareado no meu tédio.

Trocava tantas palavras com quem tinha medo!

Até quase pensar que por ter maus ouvidos, medo também sentia!

E velava montanhas...

O ter que querer subir fatigava.

Até chegar o justo momento anterior ao pôr da lua,

para desembarcar de mim e de vez.

E por vez acreditei que todas as praias

nada mais eram que poeiras de montanhas.

Perdi o medo da preguiça das alturas.

Troquei o ar rarefeito

para tê-las entre os dedos.

Aquelas que outrora se mostravam montes,

esfarelavam-se na possibilidade

de erosões serem as minhas.

No poder de ser eu a poeira e a montanha,

desembarquei de mim.

Para os bandeirantes e seus filhos

Quem te pintou de cinza São Paulo?

Quem te preferiu ao renagar a lua?

O mar tem cheiro e não é daqui.

Nem sei onde olhar.

Há aleternativas...?

Entre um predio e outro rói o tédio.

Antes ruísse...

Assassinos da fauna!

Só sobraram morcegos?

Ou é o que vejo só?

Vejo um cachorro também...

A tristeza de um cão encostado na varanda do apartamento.

É essa a que vocês filhos de bandeirantes sentem

antes de , por pura necessidade de distração

(lendo que necessidade é quase sempre muito mais efeito do que causa

- é invenção.)

se proclamarem tão laboriais?

A mancha de café no colarinho do pró ativo...

A eloquência de quem chuta baianos e negros por eficiência.

E nada os redime só pela ocorreência de tantas semelhanças

em muitos outros lugares!

Ou uma cadeia cheia

faz alguém menos presidiário?

Aqui o sol nasce para todos

.




Potosí

Escorre para onde minha lava

goteja flamejante no canto do olho

nào é por ninguém

não é para ninguém

é para ali

logo acolá

onde dobra a esquina de mim

numa rua outra.

Que não as com postes...

Pode Potosí?

Posso.

E as minhas também são calçadas de ouro.


Canto para pedestais

Eles me querem condensado
e eu me quero pior que isto.
eu me quero pior que eles.
porque me quero violento e eles o pacifico.

Escrevo com raiva e penso ainda pior que isto
quero me esmurrar todo pra ver se caibo
na caixa do meu próprio desejo
mas eu escorro, sempre
no fundo e raso
gosto disso.

aos interessados: ainda tenho pena!
só do que não sou eu
vitimizem-se longe de mim.
Não suporto ouvir nem meu próprio choro.
Troco de face feito um gatilho
que da arma cinza e pesada solta uma flor!

aos atrasados: o barco partirá comigo.
As minhas sirenes serão mudas .
As minhas sereias desafinadas, espantalhas de medusas!

Se virem de longe minhas mãos acenando
deêm um banho de mar para acordar suas ingenuidades.
Comemoro a fato de ter tido coragem para mentir as horas.
E, finalmente, ir só.
Forcei um atraso. A hora equivocada era um não-convite.
“-Cheguei tarde! ", um lamentaria..
E parto satisfeito olhando o cais cheio...
Gritaria com voz de lavadeira:
“Para mim tu nunca vieste, porque convidei apenas o teu equivoco!"

Aos que me chamam de egoísta:
sou o  multiplicador que conheço:
por saber pouco.
agora , se é para partilhar
comungem longe de mim
detesto ver a alegria dos outros quando dividem as migalhas entre si e pelo chao
porcos afarinhados!
Alegram-se por essa caridade ?
obrigada pela culpa ?
enquanto escondem o pão no alto
da vista daqueles que são suspeitos.
Porque cheiram como vocês!

um egoista suscita -ismos
porque ama o singular

egocêntrico?
orbitando em mim, queimo-me menos
do que guardando a luz do sol nos meus poros
pela frente e depois pelo verso.
Depois ainda quando estou bem negro,
(a coloração indivisivel da noite e do lago)
rodo, danço, dissipo o calor do que há em minhas poeiras-lodo!
Mas os tolos, sempre friolentos
- certa necessidade de abrigo-
oportunamente gostam.
Oportunamente!
Quando descobrem que o quente lhe dá mais
do que esses arrepios chamados de vontade!

Egocentrífugo! E posso sê-lo!
Querem formas?  Massa!
Querem trabalho?  O cio.

Aos que brincam com a minha amizade:
estão voces mais vulneráveis ainda.
Estão perto!
Embora as armações sejam tortas
-pois o afeto assim capta o maior abandonado-
as lentes são afiadas. E de grau.

Que raiva essa mais feliz!
Confia e sorri.
Branda densidade magmática!
Uma senhora que era puta
mas nunca prostituta, nunca se prostrava!
Cristalizar essa raiva?
Seria congelar orvalhos e colecioná-los!
Quando a graça é a grama molhada...
O matinal.

Minha raiva é do vespertino tardio
do horror à buzina do pão e do sonho
E se uns temem palhaços,
eu temo pipoqueiros das saídas escolares!


querem dados os tecnonarcisistas?
dardos lhes atiro no espelho

Sorrio, gosto de sorrir
gostando ou não de você
gosto antes daquilo que nos perpassa
Por quê a relação haveria de ser você?
A relação em si me apraz
sou linhas, linhas!
Sorrio, sorrio confortável
a maciez letárgica que dá dor nas costas.

Não irei mas sanear pensamentos
em nome do asséptico
nem desligar meu curto circuito
entre volume e superfície.

Quero as minhas cadeias de pensamento!
Derreter grades e forjar pedestais-plataformas
para voar, voar!