sábado, 1 de outubro de 2011

Banho de poça

por qual motivo os números não podem
ser
argila
de poema?

sim.


e a química
a física
algébrica
e mais todas essas esquematizadas
ao extremo
pretensões?


E por qual motivo
se há desejos de filosofar
são precisas as paredes dos asquerentos cômodos acadêmicos
se sem moral nata já nascemos isto?

cantam corações inchados
sem solfejar veias
e tão menos ainda
cantarolam
as próprias
belamente arredondilhas
hemoglobinas
soldadas férreas que são
mas lutam
ou ajudam lutos
e isso oferenda demasiado medo.

vocacionam em tediosos gramático-poemas
as dores de um tal ser
humano
e esquecem
sobremaneira
o arcabouço da Vida
que é
o
corpo-carne-máquina
berçário todo das vontades
como os mangues são para camarões
e outros bichos do molhado.

a maioria dos poetas
escrevem sob preguiçosos pés.
escalam de salto alto dunas
e reclamam do cansaço
quando no simples tudo só é
a ignorância que transborda
quando se aprende a galopar primeiro
antes mesmo de germinar a paciência
de colecionar pegadas de pé nu
como se fincaram no imagético as bandeiras na lua.

não basta montar racha-cabeças de mil fonemo-peças.
deglutamos as peças!
caguemos combinações amorais do verbo!
transformemos caixas
-pois isso as palavras são, caixas-
em ânforas
anfíbias
as pernas longas
de um potente
corpo
frio.


mas esse chamado de nada novo tem
já contruiram o concreto
erigiram o otimismo moderno de ser nacional
futurizaram letras com barulhos de engrenagens
desconcretizaram
fragmentaram o moderno num niilismo
pós-qualquer-coisa
mas sem saber de nada disso
comida podre cheira nas escolas
áridas
e de bactérias e corrupção
in bucho
os pequeninos
do cosmo múltiplo
tudo os fazem
ignorar
e pior:

as perguntas têm a hora marcada
que é o tempo de ver
um dedo levantado.


há muito fogo nos poemas
e muito ar da parte de quem os lê
e sopram
como sopram lareiras
quem enfeita a sala de fogo e madeira
quase nunca
com tanto natural frio
assim.

o status da estética do quente
que despalida qualquer reativo discurso
com brilho de fogo de lareira.

falta nos poemas a amoral água
que surra a terra
em ondas
sem culpa.

falta o dilúvio que limpa
a vontade da preguiça
de remar
falta banharmo-nos de caneca
quando se rompem os diques prévios da tola proteção
falta coquetel de chuva sem guardachuvinhas
falta menino moço pelado em chafariz
falta beija-flor
e sobra canarinho
falta telefone sem fio de concha
nos faltam cascatas afogando cílios
falta cheirar o limo lacustre sem nojo do feio
escondido
sobram molduras e faltam os espelhos de água suja
faltam já as mangueiras no quintal e banhos livres
e verões
abundam iansãs
a girar convulsas
faltam
iemanjás de carne
falta ostra limpa
faltam mexilhões limpos
e quase já
quase
inexistem
as pérolas
mergulhadas
em honestas
pro-fundices
faltam os peixes nas vísceras das famílias
onde apodrecem bois marinados em azia clorídrica
faltam fontes esporrando leite translúcido nas pedras
e nos livros
gavetas de vaidade mofadas
sobram motivos tediosos que desgostam
as pequeninas vontades infantis
de brincar de livro
mergulhar
e canibalizar tudo que há
de mar e verde
sem serem colocadas para golfar.

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