quinta-feira, 31 de março de 2011

Horda

Que faço eu a escrever?
Eu que agora deixo a chuva escorrer
sem ressentir um pingo sequer.
Choro.
Uma outra chuva porque essa nuvem me mói
esgarçando de mim um relâmpago
porque de todas as mortes já havia eu voltado
com a beleza dos que choram um rasgo no mar.
Aos que dizem serem os da margem
digo que se os cascalhos sumiram
foi porque minha fome teve mais fome e engoliu!
Rumo a ser o cronópio dos cronópios para um cronópio irreconhecível!
Que posso eu se a morte dá a vida indescritível potência ?
Repetem algo de singular os seres experimentais
sem o laboratório vivo da sangria?
Pois vos digo infantes camelos
que ser hemato-experimental custa a morte da mansarda vida
e nesse velório vós seríeis cactos mal sabidos de chorar
porque guardam pouco sem saber suar pelos olhos!
O leão de tanto suar pelos olhos tem agora a temperatura de um cão da neve!
De barril no pescoço o veneno que suga o sangue dos que sugam.
Que faço eu a escrever?
Eu que cheiro o tempo e me celebro sem a fatídica vergonha
pois é minha a própria ampulheta que me extingue
achando todo fácil a beberragem outra dos outros de vinho
e raro os que brindam sós
bebo eu o sangue de Dionísio
se de minhas defesas erguem-se as muralhas do anti-mediano :
soldados, palhaços e divas sarcásticas
do exército plural que me dá a retaguarda da duração dos afetos
de tal altura onde só moram os relâmpagos e seus praguejos
gritam o berro comum entre a chuva e o magma da terra,
a anunciação da horda leonina!
Que há de matar cada hiena até o último riso num genocídio de gerações!
Quem há de por fim a tal dinâmica de forças se isto escrito já é pois imortal?
E, sim, se há alguém a se levantar e sair deste recinto
ofendendo minha celebração de masturbação egóica
digo
com a coroa de leão no nome e calma tântrica
que compreendo com raiva a má consciência
de quem não sabe o que é gozar, tremer a terra e esporrar no espírito!
Aos feminis que procuram o ponto G da finalidade do prazer:
vos instigo a tentativa do abissal Z :
a vontade de contração e mergulho
do Zênite ao nadir
queimando quem há de ser sarça
pela isenção da culpa que destrói
pela afirmativa da criação que é a liberdade sem asas
porque andarilha!

A imanência que se pinta na moita mas não foge!
E chacoalha a árvore das transcendências,
até caídos no chão podres os frutos
para enfim aos vermes poder dizer sobre sua serventia
que agora se dá enchendo bocas que no rasteiro vermes alcançam
trincando como moles varetas
nas cavidades gulosas de homens-anôes!

Quanta força tem a vida afirmada na potência!
Quantos choros do camelo ninguém via
porque carregava o pesadume do dever ser
com a destreza de quem carrega diamantes gigantes
em pequeninas bolsas de papel.
Atravessava a ponte
a transição que fazia valer o homem
que doente que é só se vale como força ativa em metamorfoses:
perece por não ser a criança que a civilidade deveria ser!
Tanto mais ardia o sol
mas se envaidecia
quanto mais se queimara
de tão cego pelo torpor da visão de um oásis
só deserto via
e outro
maior
alargado em outro
sucessivamente.
O oásis do camelo era só areia.
As palmeiras já haviam se tornado papiro
de outras cartas de outros camelos
bem mais comunicativos.
Uns com sede registravam a água que para eles era invisível.
Outros escreviam cartas para um Deus
que talvez de tanto apontar-lhes o dedo
de câimbra fortíssima precisou o braço ser amputado
e assim pela piedade que os homens tinham
para com Seu dever de tudo ter que cuidar
mesmo com membros irreconhecíveis
e barba longa suspeita onde tudo podia esconder
aceitavam prazerosamente a não-resposta
esforço compreensivamente não realizado
e era um bem ele não fazê-lo
deles não se ocupar
morreriam os camelos de remorso e culpa
se uma resposta viesse dos céus
ou voltasse do inferno por falta de remetente
diria a carta sem escrever
que eles a cargo de tudo
fizeram ainda mais carregar
o camelo dos camelos
que se cansadas as costas quem então carregaria?


Perto do penúltimo deserto antes do último quente infinito
com a raiva dos que descobrem todo guarda-roupa de disfarce das miragens
dos que transmutam a sede em vingança de matar um oásis afogado
crescia nos camelos uma juba que coçando era mal compreendida.
Do habituado carregar pesadumes mal acreditavam eles ostentar
um adorno de tão gritante levíssimo
preciso foi uma conversa com os cactos
mais sapientes por nunca ter que beber
e conformados com transformações
já tinham vistos a mais de mil anos
seus cabelos virarem espetos
padecendo por não ter mão dura que lhes dê cafuné
assim contavam terem perdido a sede
na ausência de mãos suficientemente duras
decidindo por si e pelo que ainda podia guardar
de desgosto aquoso ou prazer molhado
a solidão das solidões
com a calma de quem fita o sol sem secar
transbordando pelo perigo do toque alheio
a empáfia da estática
do poder transpirar pouco
e não se curvar nem a maior promessa de luz
quando isso os equipararia aos girassóis
e de certo, ridicularizados,
por onde sairia água do choro da vergonha?
Empapuçados de seguir e água de olhos mortos
cairiam na mais funda fenda do seco
que é o saber ter que morrer
e tudo ali findar
porque de seca a terra nada ali vingaria
desesperançados com o além vida
nem adubo sua morte poderia vir a ser.

Que faço eu a escrever?
Chega destacada da multidão a horda leonina!
Com o focinho cheirando a sangue de camelos e hienas
e barriga estufada de quem comeu pequenos e seríssimos homens!
Chega a horda leonina!
Que faço eu a escrever?
Se até o leão precisa esquecer
se não soube ainda transvirar criança!
Que fazem os doutos a refletir? A re-sentir?
A ressentir muitíssimo até fingirem fazer História se nem história fazem?
Que fazem a escrever?
É chegada do amoral a horda leonina!
Com chuva. Muita chuva.
Que esses leões são gatos afeitos a nadar
no espaço liso dos inventos de vida.
É chegada a horda leonina
com astutos bigodes que se aportuguesam,germanizam e patinam com a leveza de um Chaplin qualquer
em ofuscante gelo.

domingo, 27 de março de 2011

Carpideiras

debaixo da macieira
sentava aquele corpo
com as mãos fechadas
de comer maçãs e seus bichos
parecia ele entender
até pensar em si como Adão
e a cobra morder
parou.
furou seus próprios olhos
com o maior dente da cobra
para ver até onde ia sua fome
depois de todo se furar
na busca inútil das causas exteriores
que alargavam
sempre para o tamanho de seu apetite
maior
veio a idéia
no atravessar a luz pelo seu corpo furado
do sol que esquenta teias de jardins
que não:
não se come pelos olhos.

rodopiando na ira do desconhecer
afeto confuso das paixões
fita métrica no pescoço
quase enforcado
já de pé
o nó era o tamanho indeterminado
da sua adequada fome por bichos
que pensava torto
ser por maçãs:
pulava para a morte
como quem brincava
o último pulo
de uma amarelinha fatal

depois de morto
cansadas as pernas
com o tédio dos caminhos que se tornam habituais
pelo vagar de ser alma e no tudo entrar
tornou-se a sentar
perto do pé
da árvore
agora eram dois
assustados
depois do barulho guizo de um rastejo
bateu-lhe a cabeça
outra fome dizia
sim:
se come pela memória
só não
quando devir ser
o desejo de um homem
viciado em provar
e de súbito dilatou suas papilas
para provar o que havia de ser provado:
o incessante esquecer.

morreu pela segunda vez.
porque para esquecer da fome
achou que havia de esquecer
como se comia e engasgou
engolindo ar demais
e maçã de menos
tossiu a tosse
de uma esperança tuberculosa
entre os trancos do ar preso
desprendida era
sua segunda alma.

ninguém por aquelas maçãs entendia
porque agora haveria de ser
o enterro de madrugada
mas assim escolheu a alma
preta que não queria ser vista
fato respeitado por todos demais bichos e maçãs.

entre choros de apetites ansiosas
para nos seus portantos já idos também morrer
cuspia a cobra lembranças azedas
na cara de uma Eva
que nem o morto lembrava da existência:
eram a Eva e a serpente
as únicas carpideiras
no enterro de fomes
mal esquecidas de morrer
as duas assim
uma chorando sal
e a outra veneno
consolavam o tédio daquele luto
que no fundo intuido
todos sabiam não haver razão de ser
mas como era de costume
talvez a floresta seca
continuavam a alagar-se
como num mundo feito
sem bóias e barcas...


passada a vontade de se cansar a tarde num cemitério
e lembrar que o que cobria suas vergonhas
era o que de parreira não era uva
tirou da púbis uma folha
e nela apertou um cigarro
que nunca fumou :

eram da cobra as lágrimas
da chuva que o apagava
sem nunca se entediar
pensava
melhor fizesse se procurasse
outro vício para esquecer.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Com vi-te

Sucumbe a certeza velha

ao dizer

que talvez tenha encontrado

outro rei desgovernado.



certa forma incerta

ainda alegra meus pensamentos

e mora na calma

o saber

que não é a memória de ti

és tu próximo

e para

tu

o convite

de conversar a vinho

quando puder e quiser

porque pelo que não é sabido

aquela tarde de hoje intui

o que ainda não sei

do teu

mas meu

Dionísio

ainda quer te ouvir

e falar

para um

que não é mais aquele

mas o outro

ainda quisto encontro

com a naturalidade sã do mar

fazendo onda

a saber :

meu corpo leve te quer

sem só por isto

queiras ler

quer como quer o mundo

antes enganado

pensava

amar

torpe todo

um pouquíssimo ter.



Sim, antigo amor e novo quê,

mataram as paixões!

E o que fica são nossas vontades

apesar de.



A rocha antes submersa

depois da maré:

morreu.

(entre paixões suicidadas

de 21 de maio a a-gosto)



Em que pese

o que é de aquário

e não pesa

o jogo do post mortem

das re(l)ações

idealizadas

cá estou

com a coragem branda

de te chamar

depois de tudo claro

depurado

eletrificado para dentro

do mesmo dentro

antes oco

que transborda no agora

falo a mudez dos loucos

que já serenidade

passado o outono do cair :

sim.

eu sou um sim

dito apenas

não

ao desamor

intolerável

no mesmo

estreito:

agora.

o que tens e quem sou

é desmedido

como acaso qualquer

e já nem ligo

aquilo de solar

rosa e abóbora

nada afirmado pela repetição

mas pelo que há de lua

a tocar

mais ainda profundamente

assim me parece

tudo ter sido

um trágico ensaio



nem sabes

não que importe

mas intuí no corpo

a tua chegada

como quem rastreia um cheiro

antes de lá no mar

e à beira

encontrar

repetindo

sim

ainda te admiro

mesmo unguando

teus cortes na minha vaidade

agora

cuidadosamente

dela cuido eu

sem mais ferir tanto

alguém

matadas as moralidades

pelo triunfo do amoral

acredito eu nos novos outonos?

sim.

e gosto

porque te gosto

na lucidez de agora

sem precisar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Esquecer se aprende amando

escreveu num grão de arroz
o mineiro e também pequeno poeta
amar se aprende amando
e eu aqui cá com meus botões
fechando meu casaco do porvir inverno
penso longe
que esquecer se aprende amando
a si

eu, meus casacos,
um chá
e infinitos invernos.

Outono

abre o portão de madeira
tomando
fôlego
vem
com o rosto pintado
de azul
e estrelas que nadam
no seco do preto
ele é o que beija
antes de esfriar
cobre
prata
lua
no chão de folhas
secas
o pisar estala
nas tardes
de 5:30
agora tão agora
depois de esperados doze meses
ele volta
com a calma solar
cravejada nos olhos
depois de tudo que foi evaporado no verão
trazendo o cheiro
das flores geladas que se dão devagar
vento brando que cavalga a areia do tempo
o vidro da ampulheta
onde um grão sempre conta
dança
sarra noutro grão
faísca de calcário, poeira
bem unidos
quando o de baixo não suportar mais o peso dos outros
quando o que sobra cair para os lados
quando tudo tiver que virar de ponta cabeça
ele volta
vestido
de azul
    e
Vênus.

dizem as folhas secas
que antes de tudo ser cinza
só o outono
faz
cair
e azulando o olho do mundo
beija seco a terra
antes de gelar
treme
chora o verde 
seco sucumbe
conformado
aos  gentis afagos de ventania.

Poesia

sinto
como quem sente um perfume de pernas
do outro lado da rua

ela vindo
pelos estreitos caminhos do uso cotidiano
e na senda luminosa da vontade
me goza pensá-la
na volta do singular afirmado
pela tênue arquitetura
dos demais d-eus-poesia
urrando a música de Dionísio asiático
ainda sem ter em si cavalgado Apolo
fura com gargantas
as escutas dos sobreviventes
à medíocre vida
que pensa racionalizar enquanto intui
a existência
o possível existir
do não caber
à vida
a poesia
da vida.

ela vem.
de longas pernas e perfume:
ela vem ...

membros epopéicos

Eccou de si a história
da cabeça que boiou
relutante
uns tantos e significativos
21 km.

membros epopéicos do mar
conta
sua morenidão
calma
todo luz
no rosto
vagas no lûmem
as vontades

e hoje trascrevendo sua história
acho que a morenidão
ainda preverá
umas tantas outras
porque de vanguarda ele
me parece ser se
já seguem notícias de outros membros epopéicos :

deu hoje
no jornal um dedo
que caiu do céu
do bico de um passarinho
e o desfecho de um crime resolveu
porque o dono era um cadáver
muito procurado e falecido.

treme o trem

treme o trem
visto do cinza
do entre-janelas
o ritual maquínico
da passagem
ficamos ainda nós
esperando em festa
quando chegariam outros mil

na sala quedavam
os mudos corpos sem intimidade

abóbora vinha
do entorno do espelho
esquadrinhado o que podia ser duplo
sem ferido ser o halo
da bruta vontade
uno-originário
que dói e reluz
como enxames de epiléticos vagulumes
tremem escuro para ofuscar a melancolia
e somem de pequendo instante
as estrelas pequenas
porque lua cheia

quedavam agora
entre as janelas
cinzas
seis olhos
sendo às vezes
oito
quando envoltos
dois
nos abóboras da moldura
daquele grande caco que nos imita
em pobres e pequenos banheiros

e não havia
entre os três
às vezes mil
um só
vagalume

atrás
de quando em quando
tremia os trilhos o trem
lembrando outros mil
de nós
o apito e a surdez
do que de anunciação se cria do ritmo
quando se passa tremendo
por pequeninas madeiras sucessivas
que percorridas à exaustão
entoam no estalar
a música trépida dos obstáculos
virados para muitos
passagem

azul de gana

aprendeu o deselo da despedida
puderam ser vistos os olhos
fitando a gana do acúmulo
que força a memória
a contrair tudo
para caber no vazio
que

encaixa
depois do esquecimento

o de-dentro da cabeça
ninguém viu
os olhos fitavam a gana
do acúmulo
pó juntado antes da pá
varreu ele
varria a chuva
retirei eu a escada
e a vizinha já poderia retornar
quando quisesse
ao seu ofício de descabelar o lustre
de suas teias

se isso de novo
um dia ainda quisesse
não haveria mais olho azul
e dos mesmos olhos
que fitavam o saber do esquecimento
o último gesto:
cataram do chão o longe lugar
onde em forma de garrafa
a água morava

muitos pequenos seres olharam
mas só um par de olho amigo viu
depois de sentir pela inédita vez
o que de ar se cheirava em uma parreira
sem
uvas

um outro bicho saído
azulante
dava as costas

o olhar a ânima fitava
a gana das novas saídas
e disso só pode falar
o poeta que viu
porque nem ele sabe
o que depois de aberto daquele portão partiu

por cada degrau era mais perto
a raridade de sua vivência
carregava na mochila diamantes
e com sua naturalidade faria
qualquer um pensar
que eram apenas
um par de botôes
sabia em si
que se eles perdesse
teria seus olhos seguros

os dois desciam a escada molhada
avisou em imagem o gesto
que pelo impessoal amor do mundo
colocava
pelo apreço ao aviso do outro
ereta escada seca
do outro lado do muro

pela última descida
pragueja os pactos senhorios :
os olhos fitavam
a gana de esvaziar
todo corrido
cotidiano
engolido

partia dali
o começo do outono
mais azul
porque moreno

sábado, 12 de março de 2011

12 ou n - Do quase n e suas esquinas

não fez sol
nesse carnaval

Apesar de flertar com sepertinas, no meu carnaval toca um jazz arrastado. Invisível leitor, te escrevo sem naturalidade. Meu carro pegou fogo e da minha fantasia sintética só sobrou algo que grudou na minha pele como um mel plasmado quente. Dormi de cartola. Paro. Quero escrever de cartola. É o tempo de pôr. E se pôs. Não fez sol esse carnaval. Escrevo aqui como um cantor de acústicos banheiros. E se pular alguma exclamação não é grito. Por aqui nada lembra carnaval não fosse uma borboleta preta e amarela. Escrevo de um quadrado azulejo e daqui posso intuir o que evapora da marcha do bloco. Tenho a minha disposição alguns amigos fora da lei. Meu silêncio vai cheirar o lança perfume e rodar a mudez. Estou no longe agachado como se houvessem linhas tênues e finas de energia entre o fundo vermelho da terra e meus os ouvidos. Agacho: escuto o que há de trepidação. Do alhures escuto no chão a marcha de todos os pés. Me alegro mais. Que ser eu um confeite de papel reciclado não seria melhor que isto. Este ano fui passar o carnatal em Vênus. Soube aprender quando não estão falando comigo. Falam de si. E por olhar-nos de olhos fundos para se concentrar olhando no espelho o desejo do desejado morto: nasce nosso convencimento de sermos parte da conversa. Quase nunca somos parte da conversa. Somos orelhões de ficha e rendidos. Logo alimentamos um até dedos gordinhos e a comprovação da bruxa de que aquilo já é algo que se come. Ela mesma comeu as migalhinhas que eram a esperança da volta dos perdidos! Escrevo aqui pensando no quando terei que uivar em palavras para ser entendido. Essa sucessão de algarismos combinatórios não cabe. A linguística é quiçá quase a ciência pretendida gestual mais imbricante no mistério. E de tentar explicar o instinto criou uma paleta de supostas caixinhas de sentimento. As palavras são morais se tentam a identidade que liga o seu gestual instintivo – na maioria da vezes acabam em vocalizações- a um avatar de si que é o pensar o outro. Faço por honestidade o enfadonho. Toca lá fora a buzina do pão em plena segunda feira de mornas brasas.

pelo aquilo irremediável que é o tempo
basta
por esta vida basta
falar
da
tua
partida

porque nada partiu
do substancial do ti
nada havia
você era uma rainha
lá só
por representar
a união dos que são:
o
reino.

ficam para o além
de fora do cordão
os loucos, os amorais e os estupidamente sinceros
a dita estupidez
revela o inessumido sempre órfão:
nossos instintos
filhos feios
que não têm pai

desembaraça o abandono:
surge a mãe do nós

a doce água
a salobra água
a salgada
e a do
céu



O pensamento de uma cidade pode fazer chover sobre ela.

Quando voltei agora a fechadura estava esperrada. O mistério mecânico de atritos reconhecíveis foi com êxito experimentado. Depois, quando já tinha passado da porta (que na minha certa não era nada mais que um marco: ela por si só não dá em lugar algum) tive que escolher fechá-la com chave no risco de não conseguir abrir ou fingir fechá-la, enganando qualquer ladrão que queira entrar ou qualquer cachorro queira sair; tranquei. Pelo tatear do mistério resoluto, ter a certeza da aproximada sensibilidade que transita ótima com o que há do outro lado. Porque não há outro lado e nem caminho. Há um, vejo um, que é irremediável construtor de trilhos para os desejos de cima da mente : o mor(r)o da vaidade. O morro do eu moro. Calça o caminho do indetivél desejo quando os aromas da felicidade. Não a longa felicidade... Mas aquela que pisca no emaranhado e nos faz lembrar da teia. Da teia constructo : ente. A teia nossa que é quando são. De cartola faço coisas vulgares como ouvir Guns and Roses e me deixar ir em elétrica para um tempo antes de lamber a desgraça do pretenso amor.
Meus laços estão tão frouxos que quando preencho com o nome da cidade qualquer lacuna de permissão para entrar em qualquer site tolamente acho que me contextualizo. Marcar rio de janeiro. Fui passar o carnaval em Vênus e agora volto pela fumaça do incenso de mirra. Minha maternidade mora onde eu menos gosto. E a paternidade mesmo rica insiste em ser camelô. Nem tão alto uma placa cutuca-lhe a cabeça quando balança: “Vende-se narizes vermelhos”. O rico pai não está mais sozinho. Putas desempregadas, palhaços e pretensos palhaços ficam em fila e a esquina curta demais. Amontoados – e não mais com frio- nenhum desconforto ganha ares de importância. A esquina continuava curta demais até o vendedor anunciar o grande brinde. Hoje, e somente hoje, levariam de brinde a solidão do camelô. Pouco a pouco cada vez existiam menos cotovelos na esquina. As putas desempregadas, palhaços e pretensos palhaços não queriam nada além dos narizes vermelhos, mesmo que o além fosse de graça a graça da solidão. Acreditavam demais no d- EUs e não sabiam fazer sua a distãncia da solidão do outro. Fazer também sua a distância da solidão do outro: para os criadores: a arte artesã. Para os contempladores da dor dêem apenas os narizes vermelhos, apenas os narizes vermelhos, antes que a esquina volte a ficar curta demais.

sexta-feira, 4 de março de 2011

11 ou n - Dos Momonísios, suas serpentes e outras -inas

* Caros, existem eventuais ditos erros ortográficos. Estou bêbado o bastante para não corrigir.

Só não falo porque coma é virgula em língua outra. Do mais estou carnavalesticamente afônico em que pese a cuica de outrem. Em que pese a busca outra de algum senso de raiz no sambar , ou algo que o valha como antigo e muito próprio para transferir emoções a fato tal ponto que a fantasia vire algo de realmente(?) fato caricaturizado do largo de algum outro algo que além de não saber morrer, ainda brilha como solução certa de existir e desviar a espontânea atenção que no mudo enxerga tal esforço, tal mania narcisa-mártir que em jocoso pede uma privada larga de algum apartamento antigo entre a copahorrenda e o centro. Peço licença sem desculpas. Me chateiam as frases longas e sobretudo vìrgulas, mas hoje não dá. Os pronomes oblíquos que começam frases? Hoje eles serão a fita inaugural enquanto as metáforas se afogam no raso rio. Do quê? Carnava...e o ridículo é soro encontrado em teste de qualquer gosto. Valha. Ou não. Vai? Vá... é tão curto. Se fosse cobertor era ineficiente frio. És de escola de samba? Conseguiste abstrair o dinheiro do tráfico que faz o pó sambar? Conseguiu acolher o carisma da quadra sem pensar na vontade de poder do sobressalto comunitário a sofrer pena pela policia da morla bastarda? Raiva do dito de origem. Raiva do dito dado como exatamente dado e culturalmente improvável o intransponível. Rate aoiva desse topete ao vento e de todos os bailes passsadistas. A pérola mora dentro de uma ostra armada. Escrevo quando o que é coelho e devorado está dentro do coyote. Foi soprado às zebras o coiote. E ela se arrepiaram tanto que suas listras subiram num aglutinar facial e viraram mascaras. Logo as zebras eram cavalos mascarados: de nada se pareciam com o focinho arguto do coiote. Lamento: não basta tomar banho pelado de cachoeira e masturbar-se com o dedo de Oxum. Estou do dente do coiote que te fala, E sgada anterim. Sou um bom hálito. Do escovado em madrugada em contrário e acordado em chocolate flavôr. Destesto as plumas das inocentes. Ou serão putas hoje ou nunca mais? Então serão puta no nunca porque quando puta... há de se sorver o tempo para o bezunto de mel proposital. Mordem o pote os ursos e as crianças. Muitos desencorajosos de roubar se vestem piratas. Uma piada pela metade mal contada. E de piadas a inocência está farta do que já foi roubado. Agora-ontem-já? Onde a henfil-graúna gralha? Onde eu também não posso morrer . Onde eu não posso morrer sem antes muita coisa. Eu vou ajudar as crianças a botarem uma tachinha no poltrono Piaget. Hemos de descobrir que eles não precisam dar cabo a jornada pensando no melhor. A tentativa há de ser por eles cantada. É o velório precoce do herói. E a libertação temprana da moça viúva que nunca viu o putrefato cônjuge mas já se quer no suor dos sentidos a sensual liberdade. Se fossem essas linhas de caligrafia eu comeria o caderno e vomitaria a cola da brochura. Vomita-se a cola do uno: e o que se tem é um coletivo favorável. O que há de ser o todo sem o singular. A coletividade como solução anti- solidão humana me assusta primeiro, porque ela é cinematicamente colorida; depois me enoja. Sim. É tudo grave. É tudo grota-sarah-vaughan. Quando nos preteridos não é o renegado rouco ópero-Évora-cesáriano. O presente é hesitante mas nasce de parto normal. Vamos ao com saudo exorcista, a cabeça já dói. Criptografo a fluxo hoje turvo. Gozosamente me traio. Escrevo no trunco porque estou eufórico e ainda não sem gritar em caricatos caracteres. Saúdo o exército da florescência travesti.. Amo saias que velam o viril moral escondido e falicamente diferenciado da permissividade tatuada do seguro feminino a ser preenchido. Pena... À vivacidade do trans! À comunicação que espera a bizarra acolhida! : o trans nos lembra do que é sexual para além do platonismo anti-arte no barato; cristão e a suspensão da sensualidade pelo ideal ascético; além do corpo... Ao quisto! : que na profusão do desejo treme o ferro quente do epilético temido se há no pungente o negar que escarra a moral 3D. Chamar Spielbergs e Camerons para o que além da superfície: movimentam o ver que na insistência vê o atrás. Falta falar sobre o atrás. Escrever com o atrás. Ah! Se os de redação vestibulenha ouvissem,,, Chamem os poetas. Os amigos dos poetas. E provem que o quer ser entendido é só a projeção dos teóricos que ainda vêem o belo e sobre ele falam sem ter em si o crivo e o suspiro fatal da criação. A vontade de representação a embarcar na intensidade que sem interesse... acontece. Destoaram em tudo a minha multiplicidade defendida. Escrevo de mosaico turvo, me foram as garantias no tudo poder ser de Momo. Do peneirado sobra um suco que tem gosto de não-finalidade. A arte como despretensão estética que transvalora a reatividade cotidiana em opções singulares de vivência... E os nossos 7 % de crescimento ante a ocular gula mundial! Se o mundo do aberto capital e a eurocêntrica referência já dão hoje em lugar algum mais brilhoso: o prova do jeitinho parco brasileiro a consertar pelas cochias o espetáculo falido: prova da nossa amorosidade vendida em tabuleiros de pimenta e brancas saias . Viste o meu bareback com a etimologia? Pois já alimento teu pequeno pires curioso. Vou abrir o livro e registrar o que meu olho comeu. Não te disse ainda , mas para os pseudo narcisos, os mártires valorais, tenho uma verde parreira amarga. E pouco desdobra a bestialidade que se apresenta em quatro. Não pela sua força de viver o um de cada multidão, mas pela gana miserável de ser equivocadamente outros que não são para sermos no disfarce.. Meus confetes, serpentinas minhas...: que tudo pule! Mas que pule a melindrosa e eu troque a piteira comezinha pelo narguilê onírico. Pelo que não houve existindo: a única maneira de ser tocado pelo acaso sem susto. Irredediável trabalho herculano se fossem doze ou três : é um ofício organicamente depurativo. E isso leva tempo. Fui pelos becos. Me ventou o poder comprar que Lula trouxe ao c, ao d, ao e, ao a...: menos ao z.
O z é o marginal alado. O z são as crianças sem bigode. Não o poético de mendicância. Não ao floreio sujo das portas em templos sacros onde a catarses do povo médio carioca. Não à poesia que pede. Não a poesia que pergunta se você gosta de poesia. Porque isso, este aquilo escrito, aquilo: aquilo não se gosta. Aquilo é: como as fezes são. Expurgadas, necessariamente vitais e mal quistas. Escrever não com floreios sistematizados dos sentidos em reconhecidos símbolos: escrever é se senão se enfezar caso não escrito o quisto, ou o a ser afastado expurgo. Escova-se o dente de bife à rolê e feijão, passa-se o sabonte no suvaco, esfrega-se o pé com marítima esponja, hastes algodoeiras na escuta... e uns escrevem. Uns são depois pelas letras e gozam com o cheiro de páginas mouras quando pessoa. E outros no claro olhar de lince, Clarice... Bebem. E nunca se embriagam, Que o claro não entorpe: só confunde pelo em si tão desprezado o entorno. A lente grave da bruxa faz do armário um ser robusto de apego e pó. Faz do espelho o desafio de passar em sala vazia e figurar só o cheiro. Espelho em sala vazia não guarda corpo imagético se algo louva o instante e se presentificava. O presente não sabe. O presente não tem pés. Contra o espelho é o vampiro induplicável: morde o pescoço e é um. E de certa mereceria um agradecimento. A mordida nos desvirtua da rostidade e do nosso gosto afeito a sujeitos. Espelhos de imagens concubinas falidas e melindrosas molduras. É já perdida a importância dos pomos. Ajeito o cabelo ao olhar no poço a superfície. Uma das desgraças mais mal fazejas: quando troca-se o espelho pela água lisa de cima do poço. Hoje te dei coisa nova mas não espero tua distinção. Me roubei o que eu tinha atrás do pensamento. E te dei qualquer coisa por cima das minhas – inas. –Inas, meninas... -Ina xilocaína que encontra a próstata em massagem póstuma.. – Ina do desaconselho que a moral abomina. Antes os que filosofam tinham que se vestir e ritualizar em magos. Antes comtemplar era sobretudo fugir do vadio olhar e dar medo. Brota aí o ascetismo: nas bruxas alquímicas e gargalhadas. E é dada uma vez que já era e o gargalhar vira mutismo: e esse mutismo quando confessado em cantos infanto-sensuais já é a invenção do pecado. Fixa-se uma circular de Lutero na porta: o bom e o mau não são como antes. O bom pode cobrar e o mal pagar em dinheiro. Resplandece o trevo dos de burgo. Eis que um de burgo diz: que se queimem os altares! Há algo a ser descoberto! Hão regras a serem provadas! Há a tentativa e o erro a serviço de uma comprovação que é sobretudo vontade de verdade! Chutam os santos dos altares! E vestem em miniaturas de véu a verdade. Mataram Deus a favor da divinização da verdade? Sim, digo aos crentes. O que sobra disso é algo de petróleo e país do futuro. Resta disso meu gargalhar íntimo cada vez que os de águia-pilgrim despencam em si e entortam as pernas. Sobram nossas bolsas urgências importantes, as desmerecedoras de tanta celeuma. Resta no aqui viver violentamente calmo e convencer gentilmente o presente a não fugir. Ele ápode, ele que não sabe.... E quantos tombos abraçar o acaso economiza? Compartilharam o parco sinismo dos foliões! Nada contra o ritual exagerado de Momonísio. Mas que fosse todo o dia o jorro. Que fosse todo dia o dia do branco do gozo! Há o embrião-tempo que é o presente! E antes, antes!? Há a feitura do pós beira. anterior à toda gênese. : O frêmito Orgasmo: o acaso: o eletrochoque de tempo que empurra o ápode presente. Ele que mutilado só salta a choques. Que apesar de muito riso lá continua... Que apesar de pena e piteira a melindrosa melancolia continua.... E faz lembrar, varridos os salões, que acompanhado do nada sabido ele samba. Apesar de no bailar solto do it Acompanhemos o ritmo entre o que é calor e água de chuva nossa a subir! Despeja o pingar salgado que é cheiro: dança sem pés. Segue o compasso, balança a cabeça num gesto de improviso: não está sim, nem é não. Ele que não sabe. E suas muletas... A maioria dos gordos momos tem a miséria na barriga!
O carnaval é mutilado presente em rota fantasia de saci : imos e voltamos em pequenas oscilações de cinzas e ventania. Pula sem muletas o presente de gorro vermelho. Cai.
Derruba o acaso cachimbo e fumaça.