sábado, 16 de outubro de 2010

Cuco!

Se uns usam ponteiros para despertar

é meu tédio sino que apavora.


Chacoalha metal contra metal,

desabafa : - " Cuco ! ".

Feia voz para piar.


Abertas as estáticas portinholas!

Pulam sempre os cadáveres com mais penas.

Quem há de se afugentar?

Quem há de se afugentar com o leão?

Se leoa fosse talvez pouco me ferisse

E guardasse menos minhas atenções aos meus pequeninos

Porém hábeis espíritos do pesadume!

Dormi, acordei e de me enuvear no mundo aéreo das idéias

Sou agora eu o ideal da idéia do que nunca foi antes.

Tudo fosse mais natural

Seria sempre o maior agressor,

Mas com meus bichos refreados

Sobraram só jaulas de um zoológico barato e abandonado.

Depois daquela explosão

Voaram os tucanos

E num elefante manco surge montada a minha preguiça de sofrer.

Pelo lado esquerdo se mostra

Pintado de guerra e com asas-planos

Meu tédio triunfante , salva-mortes!

Diz ele baixo “Paremos de estar!”

E alto respondo que sejamos nós por todas as linhas.


Quando por entre as grades da jaula

O leão não mais se engana do que sempre foi chicote

Todo zoológico vira um doloroso circo

Se o que era pra ser admirado

Em sucessivos estalos

Vira agora a atração da dor.



segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Excertos

Nos aforismos menos eufóricos...


1- A alegria de estar alegre é a subtração da culpa no riso.


3- A cocaína é forçada solidão estanque.
Enfeio-me.
Como navegantes enfeitam barcos com carrancas.
E levo na certeza do espantar
o concretizado, quisto desejo,
do artificial e isolado cume.


4- Proceder como um viajante pelo cotidiano
é a cautelosa serenidade pronta dos loucos.
Se no rir junto gritam: - "Estrangeiro!";
no chorar só, invejam.

São, no depois, primeiros.

5- Quero lembranças!
Das memórias, saciada a fome,
vou me abster!
Memórias: o azedume das narrativas caricatas!
A moral do amor oral.
Quero amá-lo.
Mais como se ama a natureza
do que como se querem os homens.
Entendo mais os bucólicos pastoris...
E sei mais de comer ovelhas sem engasgos com lãs...
Cuspamos linhas!

6- De todos os estranhos conhecidos
a natureza (N) é sempre a última
a abandonar.

7- O amor é a concessão do pertencimento às mesmas naturezas sem poder poder.

8- Só serve o amor fundamentado alhures.


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A fora os aforismos

Teci o desejo ao contrário!
Forçosa negação do passado em completo!
Para que fosses o grilhão e a corda.
A arma.
Donde o tiro matava o mal quisto.
Meu gatilho
o outro era.
Plano meu.
Ocultada até de mim
tal estratégia de libertação secreta
que fingindo enquanto soluçava ,
seco dentro!

No silêncio abafado
de sempre voltar
nada distraído percebi.

Mal disse o acaso.
Como o vencedor descarta a sorte
pela ciência da consciência do esforço.
Emanador de sólidos que é o construtor...
Arquiteto de desejos...
E se vontades não bastam sem formas
desenhemos porcas e parcas vivências!
Chamemos o redor de conhecido!
De imutável realidade
o sofrer da ordem que move o automático!


A maioria é declarada por si mesma culpada.
Já falta trabalho para os carrascos de julgo...
Criam juízes para si como crianças criam amigos imaginários...
Articulada a assembléia deliberativa dos falos
quem há de lidar com a morte
da lembrança obssessiva do fuzilamento dos prazeres ?

(Moram no que jamais acaba os traumas da guerra velha.)

Do saber poder não ter ofertado muro como presentes
e ter pernas para correr de pontes como o alzheimer foge do não vivido



Agora, clarificado mais o obscuro intento
hemos de atirar a revolta mole
despenhadeiro abaixo.
De fundo onde não há chão,
nem cimento.
Só o eterno retorno
da escolha de ter escolhas,
do querer para si infinitamente cada acontecido
e abraçar toda sorte de inventos.

Na paráfrase do soturno grave dos cabelos desgrenhados
continua sendo o mais importante do bordado
o avesso.
O avesso.