segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A dor embranquece

A dor embranquece.

não é preciso chorar
se o fim são os outros olhos
vejo entre a porta aberta
alguém espiado por um longo caminho
bate à porta
no impacto de assustar
mal sabendo ser esperado
nada assusta
só dôo
sem nada doar
apesar da gentil recepção.

Ah! Se soubessem a dor que mora na gentileza!
Habita mais dor na gentileza
do que na crueldade.
A crueldade é desinteressada
por anterior ser sempre
a qualquer motim que a deflagre.

Para quem ama o tudo
e detesta o nada
ser gentil
é pedir pelo mar passagem
quando se navega em armada
de força sabida.
É pedir com sorriso
e doer.
Dói a dor que doa compaixão
aos tocados pela gentileza
como bruma
mas ela é vento...
Vento!
Um vento condensado
para que se passe
entre duas nuvens
sem chover.

um vento empurra nuvens
mas não arrasta raios
de teimosia imanente
que o chão entre águas
tenta tocar
e quando toca
toca fogo
beija incinerando
muda os estados
abrupto
não volta sem avisar
sendo ele o descarrego de si
finda o corpo no próprio beijo
flameja à exaustão nula:
é energia
gentil com as nuvens
cruel com o chão
como tudo que remenda o contradito
e levita ao inverso.

falo de raios
e hoje é sol
em quais curvas andei
então a criar
nuvens em mim?

hoje é sol
só até enquanto
a água não pesa.

são gentis os raios
para quem na mata escura
caminha sem lampião
será para os vagalumes carentes
o relâmpago um deus?
cruel e gentil como um deus
que mais Deus é
quanto mais gentil for
estando sem ser

até vir o trovão
denúncia para os que ouvem
e mais nada conseguir disfarçar.

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