sábado, 15 de janeiro de 2011

Elétrica 1 ou " Do cotidiano fantástico"

A mirra tem sido meu transporte favorito. Talvez as teclas sejam a salvação da minha descoordenância, velocidade entre o dedo e o pensamento. Deixo agora fugir o é que é ser. Penso que as ervas estão na gaveta e procuro uma bacia que possa ser contaminada. Escrever aqui é poder. Uma brincadeira oculta. Uma folia mística de neurônios e elétrica. Traz culpa também essa linha. Derramei o dia pensando nos temas que sou eu. E os alagamentos de fora? Me perguntei hoje o dia inteiro. É engraçado pensar na sua condição de leitor. Esperto ao contrário eu escrever que estou com ervas atrás de mim e fazer você ver um jardim de pés empoeirados. Falo em ervas, sim. Mas estou com malva quente no cú. Li que cura abscessos.

Olho para as cores da paleta. Feia mistura faz brotar quadros patéticos. Não se já falei isso. Mas além de não saber escrever, também não sei pintar. E faço as duas coisas. Elas não tem que ser. Elas já é. Elas já unas no indivisível eu. Elas onde me estouro. Elas onde sou beira. Escrever é a anti-loucura do retroceder. Alquimia de tempo. Contração e descontração para fazer caber no entre criptografadas sombras do que há por trás do pensamento. Só cheguei na sombra. Ainda. Cheiro a malva quente. Tem cheiro de guardado amargo. É como se ela por trás o velho puxasse o velho. A afinidade dos amargos, o segredo do meu corpo rompido pela voz da erva que chama. Leitor, se enlouquecesse ainda mais meu cotidiano você mais me freqüentaria? Você é uma criança que gosta de casa de espelhos?

Já começo a inventar motivos para você gostar de mim. Tenho que parar. Não estou disposto hoje a inventar pensamentos. Chutei alegorias. Também quero o claro fluxo. Não quero turvar águas para ser visto profundo. Sujo não é profundo. Vago pelo desejo de ofertar minha fome em troca da sua comida. Tenho que parar. Sem inventos. Vou ver a malva. Ela tem pêlos. Num manual acabo de ler: “ quando chove estas flores choram, ou seja, libera um liquido castanho que faz nódoa na parede e no tecido”, assim falavam sobre os adornos da malva. Fiquei sem entender a parede. Ela nunca falou comigo. Malva é amiga do clima ameno.




Não queria que você me lesse para passar o tempo. Mas escrevo para passar o tempo. Faço pedidos egoístas, é bom saber. Peguei a folha pelo rabo e parecia um camundongo.
Escrever já é a tentativa maga no tempo. A malva coça reto. O velho tá puxando o velho. Amargo guardado com amargo guardado. Isso cura? Arde. A malva é teclado.

É claro o olhar de lis. O clã ri se. Gargalha se se é no it. Sabe que está comigo porque me convidei. Ela gostaria de me ver assim: escrevendo de bruço. Bruxa, teleguiava sementes.

Vou ligar o marimbondo condicionador de ar. Zumbido seguro sempre nina. Inseguro é tudo que não é robô. Homem sanguíneo, o que dirá o trocadilho? O meu sangue pesa mais agora. Penso em dormir. Ou durmo para pensar? É taça cheia, taça vazia, taça cheia, taça vazia... até me embebedar. Bêbado, acordo. Vivo trôpego do meu sono. Desperto para a vida justamente no sonho. É lá onde sou impossível e me ultrapasso. O sono é um it de morte aceita. Na vida sou imortal água-viva. Minto. Ainda me falta correntes para ser água-viva. Mas também não sou água morta. Cheira amargo. Sou dono de ostentados aromas. Não desapeguei do olho outro, sei bem. Ando pelo debaixo aquoso como se o substrato me desse arrepio. E cada arrepio é um passo. Cada arrepio, um passo. Cada... Posso ser estrela do mar? Eu respondo: sim. Já chamaram água viva de hermética bruxa, terror dos ginasiais. Só posso ser estrela do mar. E isso facilita, e muito, seu trabalho de voyeur de mim. Quero ver se você ganha do meu eu em olhar pra mim sem piscar o olho. Pronto, já piscou. Que aqui eu sou o dono do tempo.

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