sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

-eza ou " Para o mártir de cada um"

Para o sofredor o martírio é recurso, continuum da justificativa dos erros próprios. O sofrimento perverso dos que se abstêm de alegrias severas para cobrá-las em oportuno momento. O deixar sofrer é a garantia do poder errar mais. A vaidade dos que agüentam cruzes pelo espetáculo da breve demonstração de resistência. E quem não há de parabenizar um resistente? Ah, esse mundo de desistências... Enquanto o sofrido trabalha pelo respeito ao seus luto s, o sofredor se vivifica com a atenção dos desistentes. E ver o outro sofrer também é sempre uma possibilidade de se saber sofrendo menos! Essa é a acolhida. De estar sobrando em si a suposição do que no outro falta. Legitimadas pelo régio dar e receber, para muitos, estes são os melhores amigos. O sofrido é o meio do transversalidade daquilo que machuca e existe. Ora atravessado, ora a salvo, é o humano errante onde há o sobrevivido tentado. A planta da cidade, o formigueiro, os binários governantes... existem no machucar sempre possível da inconstância. Sobretudo no martírio sofredor o corpo inseguro faz emergir a vaidade. Há os que medem amor pela resistência do poder sofrer por ele. É justamente aí onde se acham livres. Se há liberdade para o sofrer insinuante de morte, qual Caminho para a liberdade que não pode ser percorrido? O teatro é a liberdade do duplo e abundante sofrer. Do resistir sofrer mesmo no encontro entre o que há de sofrido a ser mascarado e o que há de máscara a ser sofrido pelo dono de uma história que existe apesar do ator. Se o pensar é bastante para nos fazer humanos, o querer ser pensado nos faz humano à exaustão. No peito do sofrido a flecha estilhaça a carne, espirra. Estanca. O sofredor não importando cem flechas a atravessá-lo sangra sempre pela garganta. É preciso relembrá-los de que o grito em si não é a dor. O sofredor é poeta. O sofrido, o cacto de um poderoso sertão. O calor só mata os desavisados que não carregam água em si. O sofredor é poeta porque finge, não é? Dá-se roupas coloridas para o que não tem corpo e perpetuam o trapo a ser sujeira. A trajetória até o fim do tédio sempre salva os que em nada acreditam. Para o pessimismo o sofrer é a redundância do ingrato dar e receber. Para o sofredor o aclame do sudário. O mistério do que surje depois do acreditar-se limpo. A vingança – apogeu do tédio do ato sofredor- é a projeção do que não pode ser sofrido só. A escola abrigo dos alagados. O medo do eco na solidão é o tamanho incrível da voz triunfante do abismo vaidoso. A ciência da consciência , a filha mais que pródiga, que retorna com a mensagem da pequinês de todos os atos contra o que não morre e nem cresce de baixo para cima.O sofredor se afoga em poças. Outro bebe mar e rio para não cansar o corpo do sal. Sofrida é a grama apesar dos bois. O sofredor é árvore grande. Com bromélias, muitas bromélias... O belo controverso do ingenuamente acreditado parasita pela sua destreza de fixar. Sombra... todos querem sombra. Se soubessem onde vende os cantis para a sede de mundo fariam filas. Esperariam horas, anos... e seriam aplaudidos pela sua resitência. O sofrido é tão lobo quanto gato é sofredor. Um viva rouco para os que pulam de precipício, comovem e caem de pé. E a condenação dos lobos fornicadores de solidões. Sofredora é a lua, que convence o sol de conceder-lhe licença de dia em dia. Mas pegando o sol de saída, insinua humilhação e lhe pede um pouco de luz. Nos calorosos argumentos (porque sempre há calor afora o pedido) culpam até as estrelas pela criação da distinção entre tudo que brilha e o que é ofuscado. Quando só existir, na sua importância, bastaria. O sofredor é mágico, ruído por truques, auto ironia do nunca poder ser deus. Finge o que some por não saber extinguir. O sofredor chora em vulgares ombros. O sofrido narra os pesares do acaso; o dar forma a dor é distrair-se dela. Não há melhor morte para uma dor pulsante do que um sonho realizado. Há horas em que não se quer ser o próprio corpo. Piedade do corpo no tédio ritual do fim da destruição. Nada acaba se é conhecido. Sofredor é o homem do saco. Finge ser mendigo e rouba : preferência por vidas pequenas. Praguejar alguém para o sofredor é um bem memorável. O mal nunca é feito por, nem contra, humanos. Existe em milhões de fluxos que nos antecede. Se reproduzir o mal é a gestação do descontentamento...O que se diria do mal feito a vida pelos vulcões e gases que nos pré-existiram? Os crentes da ciência e suas bocas cheias diriam “evolução”( obviamente e a propósito...). Nem os mais exercitados e crentes pensadores admitem a experimentação do universo. Metrificam inconstâncias por pura distinção.

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