sábado, 22 de janeiro de 2011

3 ou n

Implodi meu corpo. Dentro para fora. E as pessoas observam na calçada. Não há poeiras, nem a tosse de ar viscoso que resiste entrar. De concreto : um nada. Como seria um castelo de róseo mármore ruindo? Também não sei.

Acho que tenho febre. Ou é um pouco de sol praiano guardado em mim. Fazia tempo não lhe escrevia, invisível leitor. Para grandes perplexidades não há funil. Não goteja palavras. A escrita é a dose homeopática da depuração. Cada palavra um micro bálsamo, como aqueles moradores de dentro da aloe vera. Pinga uma gota que é minha e sua. E talvez mais sua do que minha quando as teclas presenteiam as gotas de asas. Meu funil continua ineficiente, talvez por isso sinta minha cabeça como uma pista oval. Digo já. Não chegaremos a lugar nenhum. Este instante é aterrisagem. O it é o fim do que começa sem finalidade. E quando digo morte, digo morte. A morte do amor burguês já me serviu em priscos romantismos. Agora falo de morte como os cadáveres vêem o capim por baixo. Poderia. Mas não vejo capim. Vejo o mundo por baixo e é sobre isso que quero falar. Sem morbidez. Se vejo morte, vejo vida, vejo céu e mar. Vôo e mergulho. Uso o binóculo da morte. Tudo me é perto e de fronte. E é só com esse binóculo que se enxerga o devaneio da vida. O que há perto vira apenas o halo da coisa e o longe a distância segura de quem pode enxergar as explosões do devaneio sem a urgência de correr dos destroços que perseguem alvos. Perseguir, perseguir... Será que consigo te transseguir? Já não persigo. Sobre isso o grande Acaso me contou. Acreditei. Por não ter verdades a ele me abri como arco-irís e morros. Paro aqui. Já me traio.

Me pergunto... Como se esculpe uma menina vendo se vai chover? Quero mais argila. E Clarice. Para onde posso te levar que não seja a minha casa? Gosta de ágoras ou de claustros? Então vamos treinar tiro ao alvo. Tiro de flecha. Sem pena na ponta. O que será que há de comum entre a flecha e o ovo? Prefiro ainda falar de ovos. E faróis. Flechas são rápidas demais para mim agora. Farejo um gás letal rastejante. Chamariz tem o sangue envenenado.

Nasci de novo e além de descalcificar as cascas me sobrou a embriaguez suave de quem bebe o acaso. O instante catártico? Não. Não há transcendências quando nasci de placenta minha. Como o inanente, tenho o acaso entre os dentes. Pesa-me o instante como uma coruja pousada no ombro. Choro. Viagem pensada desde criança. No cedo já queria estar lá. E cheguei, estou. Sabe quando se tem viagem velha planejada? Paisagem tão quista que mareja os olhos? O êxtase do perplexo. Minha água é de quem vê as pirâmides do Egito : o túmulo e a geometria. Choro porque agora não quero voltar pra casa. E não poderia. Ficarei para sempre no Egito.

Perdi a companhia. Mas ganhei a herança. A mesma geometria dos túmulos é a que vê a dança dos astros. Encontra Vênus e guarda gatos empalhados.

Empalhei o gato da procrastinação. E ateei as expectativas. Sem guardar aguardo, a penas, vida. Ela é a única convidada para depois do baile errático dos instantes deitar fria e arrepiante no túmulo triangular. Do arrepio donde se subtrai o medo: feito gelo e sexo.

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