segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

2 ou n

Hoje foi um dia de tenras revelações, me amiguei com a morte depois de Vinícius. Convite irresistível aquela tenra velhice. Gargalhada que sacode o corpo todo, relembrava Chico. Falo como conto amigos, não estranhe. Não é pedantismo. Nasci intimo e isso causa algumas confusões. Faz do meu carinho às vezes rede maldita. Sou intimo e longe. Quero usar cada vez menos essa tecla que volta e apaga. Vou te dar tudo. Ou fazer você crer que me tem mais da metade. Não sou ar, adianto. Minha alma é pesada demais. Sou fogo leitoso de sândalo queimado. Purifico. Curo. Já disse não saber escrever e pintar. Sobrou algo: eu curo.

Curo errante por nunca ter deitado com feiticeiras. Ou adorado magos, apesar de já ter me vestido de um. Era carnaval, essa mágica não conta. Falo de catálises e não de dispersões. Não sei se por preguiça ou intuição talvez não possa detalhar os encantos. Mas hoje tive que curar minha mãe. Tive. Coisa aguda. Grave só para minha depuração.
Cada cura alheia para mim é um rascunho de auto cura. Brinco com a minha morte ancestral animando assobios de vida em música.
Pintei as palmas de roxo e a ponta dos dedos de vermelho. Quando olhei o contraste ganhei outra mão. A ponta vermelha das palmas espalmadas viraram unhas carmim. Era uma senhora antiga eu de mãos ao contrário. Confesso meu espanto pelo novo. O poder da cura é sempre novo e me vem do invento da intuição pronta. Há de se captar a vontade dela. Revoltosa borboleta. E assim me vem cada nova etapa do encanto a seguir: do improviso cristalizado, âmbar de intuição. Há de haver lua também. Sem ela minha elétrica é anônima. Ali não posso inventar nomes.

Vou pausar ( ou pousar ? ) agora, leitor. Só pulam coisas brancas na minha mente agora. Quero ofertar o transparente e o colorido. Fumar.

Lembrei agora ter cantado para a caneca de chá. Falei fogo de cima.
Acho que estou meio cansado dessa besteira de escrever, mesmo sendo besteira. Que é na brincadeira que a gente mais cansa. Todo mais é sacrifício, não é cansaço. É no jogo onde mais se dá. O resto é teatro ocidental.

Acho que me veio o lampejo da minha primeira história de ficção da vida. Que as de criança não contam. Todo poder era ficção por não haver ainda vida. Aquilo era o transversal suspenso, gasoso levitante , antes do ser e do é. A vida começa quando a crueldade de outrem nos rapta a inocência. O inicío da história é um cativeiro. Chamariz era um rapaz que tinha o sangue envenenado e se torna um revelador. Diz a mística sobre si haver de encontrar quatro homens e uma freira vaidosa. Os dois segredos de si para expurgo da voz precisavam ser revelados e tudo tornar formato transparente. Estamira havia lhe contado sobre o trocadilho e nesse dia ele desvirou criança. E agora tinha três casas e dois segredos para revelar à quatro ânimas o que lhe queimava o sangue. Faltou a freira vaidosa. Uns para roubar sua sensatez até xingavam seu ofício de psicopedagogo. Ela era. Mas não havia contado para ninguém.

Traí aqui minha proposta inicial, minha brincadeira primeira. Escrevia com o que havia a frente do pensamento, o peneirado pela ilusão do raciocínio. Antes escrevia medusa. Agora costurava ocorrências. Antes o fluxo era clara sombra por trás do pensamento. Queria lhe mostrar o pipoco da ficção. Agora breve que passou, o estouro cínico e urgente de pequenos cogumelos brancos. O toque curto de lúmen que dá vida à personagens. Temos desvantagens, leitor. E uma das suas desvantagens é o seu desapego de mim. Você é um dos muitos pares de olhos que se aglomeram feito anêmonas no fluxo corrente da água eriçante, dançarina fresca dos tremores que dão a palavra. Sem oferecer ouvido. Não te ouço. Somam a tua voz enormes outras em um plasmado ruído. Um zumbido de ouvido quando brevemente em diferentes alturas. E eu para você sou um, desgasto sua imaginação. Por você não posso ser-lhe além de um só. O desdobrado em tantas dúvidas até acabar em ser você mesmo. Botará em minha boca o não dito e me acusará de suas próprias contradições. Disso eu sei bem. Como acredito piamente em ovos e cura. Não para que tenha medo de pisar. Mas para ensinar como esperar vidas. O perplexo nascente quando do vazio faísca raios. Acolha esses personagens como o metal acolhe raios. Trema abraçado e junto. Sou uma borboleta que aprendeu o movimento de remanso das lagartas. Anda como se a maré estivesse em si baixa e cheia, baixa e cheia.

Isso também é seu mesmo que não sacie.

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