terça-feira, 28 de abril de 2015

teu corpo
                 hera desfolhada
em lâminas de chumbo
fino
me cortas
sorri :
            relampejo

teu corpo
casco de
árvore
como se fruto
canela tivesse
maçã escura seiva de mogno
úmido, tórrido
alimento
incandescente
polpa de brasa
e lambuzo
tu queimas
sei eu
teus pés correndo
chama vertical acesa
teu corpo
dançando com esquivas no vento
golpeando o ar de fumaça muda
feito vulcão desgelado
rouco
partidor de icebergs
fogo! inflamador de azul
ladrão da calma
sussurro cuspido de pólvora e clarão
teu corpo
parte e partirá
à qualquer hora sem aviso
meus olhos estarão no cais
linceando teu navio de fogo fugidio
velas, labaredas, cera,
teus frutos cozidos perfumando
a noite dourada
o vento,  canela
teu corpo ido
fumaça caminhando nas águas
meus olhos estarão no cais
sentarei
no primeiro pedaço de chão
abrigo de ondas
com ouvidos nas mãos
taparei os olhos
e como um feto perdido
dentro da concha calcificada
cerrado na memória do teu fogo
incendiado
sobrará dos meus ossos a única pérola
eu-pingente no teu pescoço esguio
 terás perdido nas cinzas
                                                                        o último tesouro
debaixo da altura de seus olhos
serei jamais visto
perto demais estou de ti.

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