uma justificativa astral
pra te beijar
a
lua
cheia
não vejo entre as nuvens
assim mesmo eriça
bate em nós o sino
de uma igreja escondida
ao longo te vejo
arqueia minha
dignidade
pedaço de metal em curva
espelho fosco solar
pára-raio das minhas vontades
é dia de Yansã
mas esquecida de relampejar
(o que não é seu)
desce a chuva
dama de branco e vestido
agacha até o mar
é dia de Yansã
mas o proibido garoto
vestiu as roupas de Oxalá
por pura rebeldia
de quem dá tiros e ama
o sangue que escorre
espesso
rastejo escarlate
língua vermelha, molhada
violência e rubor
não te posso hoje
e te poderei menos ainda
menino proibido dos becos lamacentos
guardião trevoso
vigia do negrume
mosqueteiro da morte paga
esqueça tudo isso, pequeno assassino
podíamos, bem que podíamos
vestir vermelho e rodar
engasgando o cabelo de chuva
trovejando abraços
viris
você tão menino
e meus barcos tão negros
quero dançar de vermelho!
hoje vou sozinho
descalço
não quero minhas botas na lama
quero o negro entre os dedos
teu nariz aquilino
gelado roçando no meu ombro
enquanto eu danço, tu paras
no abraço inerte
a grande espuma que me espera
retalha-me em ondas!
hoje é dia de Yansã
você, assassino, brinca de bola
xinga seus amigos de qualquer coisa
de boné, feito um diabo jovem
assobia
eu, guru do nada
espectador dos astros
sonho brandamente com hortênsias nuas e deitadas
e você, acordado, sem devaneios
pensa em corpos perfurados
pauladas arrebentam
cabeças
bandido-menino, relampeja
no metal !
se te roubo um beijo
sequestro na surdina o brio
vistamos vermelho
aqui não há fotografias
relâmpagos quase nunca pousam para fotos
rapidamente fulminam
tigre e machado
raio, clarão
mas você não sabe dançar
troquemos essa música
ouçamos os trovões que não vieram
e a quatro olhos, juntos,
reflitamos o raio que nos parta
caídos lado a lado
feito duas madeiras negras
você antes de morrer com
tiros sonha
eu minto, lembro, escrevo
sujo a história com esse poema barato
e nele mesmo te mato.
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