quinta-feira, 23 de abril de 2015

Desclaustro do som- I

Da série " Desclaustro do som"

I- 
Pulsa!
Pulsa!
uma vela amarela a anjo algum
minha vontade inviolável
de prender a respiração e cavar redemoinhos de fogo
para encontrar amor nenhum
além de mim
desconfigurado
Retalhado, espelhado
se cada poeira refletisse um pedaço da obsessão
de ter sido alguém desterrado
cuspido
de um país expulso
Acordo
E acordo de novo
Porque já não sonho morrer
Vivo de querer o simples
Vivo de desquerer a morte
E morro esquecendo do tempo
Ele mesmo
Minha ampulheta de ossos
Esqueço
Porque apenas o ato surreal de existir
Já é uma fagulha de dúvida
Meu tamanho diante do mundo!
Esse mar de elétrons e carne!
Toda essa quântica que desconheço
E a dúvida faz morrer
Bem mais rápido que o tempo
Existo simples
Apesar dos meus enfeites
A alma deve ter um cheiro
Um cheiro qualquer de flor
Descansando em pedra
Sonho, enlouqueço,
Acordo e acordo
De novo
Já não morro tão rápido
Já não vivo tão devagar
Deito na dobra do tempo
O interstício impossível
Lago quase nuvem
Nuvem quase lago
O tempo do vapor
O hiato das moléculas
Um nada nunca é um quase nada
Um todo nunca é meio todo
Na nuvem quase lago
Evaporo.
Dinamizo.
Renasço
Recriando o espaço atômico costurado de palavras
Que são quase nada
Todo do muito que nunca é dito
Desperdício de silêncio
Esse sim
O maior bem que há
O crepúsculo do som!
A nuvem de lodo que brota no fundo do lago!
A evaporação de todas as estrelas
Quando o universo mudo
responde simplesmente
O esplêndido, quieto e negro
Ato de existir

Os deuses deitam em silêncio
E despertam com o próprio susto
Do som de suas gargalhadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário