quinta-feira, 23 de abril de 2015

Poemas de contenção ou A descura insana 3

3-
pedra grande esta que me vê
mentira!
perto dela nada sou
eu que rolo ela
só dorme
o sono dos justos porque só
são.
chove fino envolta do bambuzal
uma moça de olhos verdes
na roda, pede aprovação
e me parece que essa tal
de arterapia funciona
mesmo sem arte
chamariz bebeu da fonte
medroso, engasgou
viu os loucos, os decrépitos
com os carcomidos almoçou
desceu
no que sobrou de vivo
desconcertado
espirrou entre as migalhas
              tudo no chão
              tudo com fome
 à beira da trilha
insaciavelmente marginal
a psicóloga desarramou seus sapatos
negou a ajuda de um viciado com olheiras
eu vi. ele não:  ela talvez.
                  O TEMPO NÃO VOLVE
                  O TEMPO NÃO VOLVE
                  O TEMPO NÃO VOLVE
                   Já dei todo meu falso dadá
                              meu torpe dadá
uma criança tenta olhar o que escrevo
e hoje não quero crianças apesar de amá-las
nem pó, em que pese e levite o gozo
pela minha loucura centrada troco
de epifania, casa do amor-dádiva
por moedas, por bananas, pelas teias
                    O TEMPO NÃO VOLVE
                    O TEMPO NÃO VOLVE
                    TODO MEU DADÁ, DAR-TE-EI FINGINDO
                    HEY, DADÁ
                    MAS O TEMPO NÃO VOLVE
                    NEM PRA VOCÊ, DADÁ!
                    QUE JÁ É TUDO E NINGUÉM
                    FEITO UM BUDA DE PRATA DERRETIDA
                    POÇA DE LUZ GRAFITE
                    ARREBATO DE GRAVIDADE E METAL, HEY DADÁ!
                    SOIS BUDA, PUTA E MENSAGEIRO DO CAOS
                    SURUBA QUÂNTICA DE ELÉTRONS
                    PRENÚNCIO DA FORMA
                    LUMINOSO, ETERNO, BELO E SUJA
                     RECÉM-NASCIDA LÓTUS INFAME!

falam da ceia de natal
uma ceia no hospício
um lual sem praia
estrela do mar
             rosa calcificada:
                                         um beijo
                                         e dois desertos

iluminar de fogo um jardim de cactos
engasgar de chuva a boca
seca
-torpe imagem-
ELE TEM MEDO DE MORRER ELETROCUTADO!
CHUM!
virou alma
 doida carne derretida                           
pulando amarelinha nas nuvens
arrancando barba de santo
esperando trovejar na cara de um espírito qualquer
REENCARNA, DADÁ!
REENCARNA!
porque todo cemitério na noite tarde
é um baile de sombras sem gala
LEVANTA E ANDA, DADÁ!
LEVANTA!
a linguagem te trai!
o código escrito  tua amante desonesta
sonhe mudo, dadá
pré-pense o gesto no corpo de luz
um aceno desembaraçado da carne
que pule como um orgasmo sofrido e duradouro
porque parido das estrelas  distante e perto!
UIVE TEU GOZO, DADÁ!
ninguém lembrará de ti
só os vulcões reconhecerão teu nome
e uns poucos humanos feitos de fogo
lógica insana  tuas pegadas vivas
pingando ardência pelo caminho escuro
ainda nosso melhor antídoto
alho e estaca cravada
na normalidade que insiste

a matança dos sonhos despertos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário