sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

5 ou n - Do latir no cotidiano fantástico

Acordo. Ainda encharcado de sono estranho o movimento da terra. Que a terra de sexta-feira é sempre mais promissora. Menos para o boêmio, mestre na arte de esticá-la sobre os outros dias.



Por quê você não dirige?
Porque preservei misteriosamente minha morte.



Havia comprado três estátuas em momentos diferentes. À uma foi negado o direito de seu respectivo domicílio. Hospedou-se na cegueira materna e nada viu. Achei que aquela ancestralidade não merecia tamanha baixeza. Duas tudo viram. Parece que tenho certa repulsa à aprovação delas. Era desamor reprovar assim e pertubador o que eu não ouvia entre seus cochichos. Quase escrevi teus agora. A favor de quem é a minha sabotagem? A sucessão de êxtase já me deixa e repõe uma calma dura. Minha tarde foi marcada pela agonia da dúvida e o cansaço da leitura entre sonhos. Li, dormi, li. Adoro esse entre onírico, intermezzo de irrealidades palpáveis. O tato. Tatei-se e veja como suas mãos são doces para você. Talvez no fundo seja este único toque que deva ser guardado. Ele só há de ficar na pele em doenças de amor. E como são risíveis as doenças de amor. Paro. Penso em alertar: hoje escrevo com tédio e isso pode ser contaminoso. A idealização do mundo é o fictício bastardo do que se quer lembrado em contínuo.

Tenho ouvido menos música e mais barulhos. A rua e suas desgovernanças, a televisão do outro lado da parede e hologramas, muitos hologramas. Já tenho os sentidos numa confusão que os potencializa. É um susto de halos o cheiro do it. Invisível e colorido, leitor. Queria te ouvir latir. Podemos ainda tecer um abismo entre a linguagem e isso requer teu cotidiano fantástico. Custa a morte de falsa luta para a vida de batalha. Custa matar o mundo e fugir armado; o entendimento entre três latidos e dois miados. E o latir me é recorrente hoje. Tenho tido conversas insólitas com o meu cão que sem entender uma palavra dita mesmo assim de nada me acusou. Devo ter contado meu oculto impossível de desvelar-se em palavras de civilizada linguagem. Mas não lati junto com ele. Não podia facilitar tanto. À tarde me abaixei em sua altura e quase havendo minhas quatro patas verifiquei com curiosidade como seria ver aquele mundo pela falta de ângulo. Graus bons de impessoalidade: vê-se mais a perspectiva que rostos. E como é bom não ver rostos quando se tem a cabeça em retidão. Não há clientes para favores narcisos, cuja bondade é sempre um espelho de forças do quanto lhe cabe de admiração pela tenra generosidade. Bondade, generosidade, filantropias... Mas quem estende a mão para as misantropias? Faltam ermitões que as bebam. Sede sobra em todos. Os arrepios da vontade fingem securas para não se humilharem. E pedir mais quando não se tem sede : isso é fome de afogar. Sobram os ermitões dentro de mim que , sem par, chamam pedras de cometas. Cavalgam voando no fogo porque têm sede do vento de fora da gruta. Estranham o fresco por terem se afeito ao úmido. Mas voam ou pensam voar. E bebem o vento de fora. Sem humilhações, não há estátuas que os denunciem. Bebem, bebem... até a primeira barbatana nascer. Depois ela para elas: nada.


Por quê você não digere?

Porque preservei cautelosamente o dia da minha cura. Que se faz quando algo sai. Para esse dia inventei um tempo.




Todo segredo é um buquê de poderes inconfessos.

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