quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

8 ou n - Da mea culpa encobrada no cotidiano fantástico

Escrever não é passatempo. Só não sei passar por mim sem levar um susto. E antes desse espanto é um turbilhão que arranca um tampo da terra e jorra um poço. Afogo e bóio, afogo e bóio. Peço licença sem pedir desculpas, invisível leitor. Sei das agruras da política e sofro a fome do mundo. Sei das águas contaminadas, do boi, da soja e do mercado negro da venda de carbono. Intuo as distâncias daqui até os diamantes negros do Oriente. Mas ainda não posso falar. E se as letras são essas que sejam. Eu vivo na urgência. Não sei até quando posso. Apesar de saber o quanto eu quero. Já quero o tudo ontem. Sei das quadrilhas fardadas e dos incêndios quando o tempo é seco. Mas dizem que vou morrer. E escrever é estender o querer ficar comigo. A tentativa de escrever o fluxo não-raciocínio-lustrado é minha chance de ser honesto. Não posso te contar tudo. Queria que você estendesse a mão, alongasse seus braços...e suportasse o desconhecido. Como desconvenção do desconhecido. Desnomeie a gravidade e dê o apelido que quiser. Hoje o oculto me é a vida. E se ousasse etiquetá-lo me condenaria. Gravidade, energia, fusão, combustão: tudo isso nos afasta. Rotação, translação...


Quase nada me resta do que eu era antes. Meu corpo é uma casa abandonada por soldados. Quero continuar. Tenho tanta sede de vida que me permito chorar até molhar minha boca de sal. Se soubesse às vezes o tédio que me dá ter que escolher cada erva para cada ferimento e o dormir ser suportável. Estou fatal. Foi filme visto hoje. A menina caía numa gruta parte de mina abandonada e era mordida por uma cobra que estava dentro de um cadáver já esquálido. O homem atendeu o chamado porque era seu nome o grito. Perguntou se a cobra estava acordada e atirou um bocado de tiro. Da subtração do veneno ele cortou em cruz a mão da menina e chupou o veneno. Nada não visto outrora em qualquer canal de aventuras animalescas de safáris mal sucedidos. Já disse que se alguém me visse sangrando perto e encostasse talvez mataria. Eu engoli uma cobra divisível que me sai pelos poros. Escrevo porque cada letra que pula é uma boca a mais para chupar o veneno. O oculto aqui é uma honestidade ampliada. Tenho dor de cabeça. Sinto agora uma vontade de escrever até a completa exaustão. O cavalo na neve, estou vendo o cavalo na neve. Dentro do passatempo que é ler... Paro. Não quero me teatralizar.

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