terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

6 ou n - Do tchau no cotidiano fantástico

Espero você vir. E quanto esperei esses dias. Estrangula e eu vomito um soco. Penso no cordial poder de meu mafioso-mor. Mate-os de carinho, Corleone! Que por aqui também faço hecatombes. Outro dia amarrei um falso italiano na árvore com uma grossa linha de pescar em arrastão e queimei o sofredor por profissão até a espera de vê-lo sucumbir. O que tardou. Carbonizado ainda tinha estruturas que cismavam em verticalizar – até eu tacar grande pedra para quebrar suas pernas. Nos pés do corpo roupas, pentes e fungos viravam brasas. E quando tudo era só brasa dei minhas costas. Não estava ali para... Branco me toma. Paro. Vou ver meu chá e relembro antes o meu exercício daqui. Não lhe escrevo minhas arquiteturas racionais, as moradas firmes do pensamento. Escrevo de um quintal que ninguém vê. Nem eu. Escrevo dos fundos, do que há atrás do pensamento e não, não sou dessa brincadeira um pioneiro. Bruxa me sussurou a receita do sopro da vida: o não-belo da coisa em si – e antes disso : o si da coisa e o lá do tempo. Sim quero lhe contar. Mas não se pode tudo agora, ainda me viciam os incensos. Vou ver se no chá há bolhas porque ferveu. Acordei hoje com a moleza do dope. Acendo um incenso: volto à cena do crime. Com calma, quero a sua calma. Quer aventura? Jogue-se no trem. Que aqui eu vou na janela. E você no corredor.

Sim. Volto à cena do crime. Preciso lhe contar porque não quero esquecer. Você deve, mas eu não posso. Se esquece a morte, mas não um dia de morte. Se desfaz o luto, mas não o funeral, fato-mortem, ocorrido. Entrou alguém aqui no quarto e eu fugi. Levei você comigo na corcunda da minha cabeça. Quero que estejamos a sós. Saiu há um minuto. Nessa tarde lhe dou o presente que é quase. Não fosse a inaptidão dos meus neurônios para a datilografia eu teria cortado os dedos. Nuvem, nuvem... Choveu? De volta estou na cena do crime. Escrever não é coragem, é a doença do registro. A imortalidade do fatal.

De mochila incendiária nas costas saí à cata de um lugar para matar. Carregava um guarda-chuva mas não tinha... Paro. Me sinto traído. Troquei os presentes nesta tarde natal. Estava dando o passado mas isso é para outra pessoa - para um outro isto. E carinhosamente, carinhosamente... Posso lhe chamar de aquele? Preciso da bebida impessoal, pois assim fico quando me embriago. Mas ainda está na minha mente o guarda-chuva que foi estaca que furou o corpo já defunto em mágica maldade. Sim, há maldades mágicas e estas odeiam ser confundidas com perversão. Matam em ritual para salvar comunidades e as minhas elas têm salvo. Salvaram meu povo quando as lavas perseguiam os tijolos e tudo que estava de pé. E agora treinam para salvar meu povo ribeirinho de uma enchente que está por vir. Não, não é água com gosto de chuva. É água-terra de poça que se alarga de moléculas descontraídas, empurram barro, esculpem grãos: o ócio criativo do custo de toda barragem. Não há hidrelétricas sem grandes poças. E hoje aqui faço: dinamizo energias. Sente aí? Acende-lhe alguma lâmpada? Talvez ainda não. Mas aproveite então o escuro, que do nada preto se vê melhor as estelas. Acendeu-lhes alguma lâmpada? Vê se sim. E as favelas não parecem árvores de natal?


O verão já não seduz tanto. A não ser sua noite : que no sol o cheiro evapora, mas na noite quente as damas da noite se alargam devagar. E todo cheiro se debruça ou ataca. O chá quente me sobe e o calor começa a ficar menos suportável. Vou ligar meu marimbombo...mas e o barulho das folhas que o vento lá fora atiça? O frescor ou o atiço?. Paro. Releio, revisto a carga proibida que já lhe dei. Penso que naquele dia saí de guarda-chuva e era verão. Não choveu. Mas eu saí e as brasas agradeceram por não ter chovido. Estragaria a festa incendiária. Ai! Meu sonho é comer todas as vírgulas e trocá-las por dois pontos que acasalam e de rebento gráfico nascer a reticência! A vírgula é uma fraqueza que procrastina didático-moralmente. Não me justifico, você não me conhece. Viu? Caí sem querer nela. Fugi esquivando o pé de uma merda-cão e me cagou um pombo no ombro. Não, não tocou meu ombro. Havia pousado nele uma coruja que sem um pio aceitou a descortesia de sua prima como um descuido desproposital. Foi um flato ancião. Não choveu. Mas para lavar meu guarda-chuva do pó de cinza caminhei da pedreira até a areia da praia. Do sólido ao filho erodido. Lancei a ponta dele na água e afoguei a alma do morto. Apontei-o para o céu. Abri. Nenhuma gota precisava justificá-lo, ele que existia, ele-si. Ele que é um eterno pára-raio. Escrevi “tchau” com a ponta na areia: que tchau não é adeus. Tchau é a morte eterna que não delega nenhum corpo a deus. O tchau não procrastina pela crença no envio de cadáveres ao superior. Coitados daqueles que pensam que um deus cultiva cadáveres. Choveu? Raiou o raio. E eu guardei. Agora vá e leve meu tchau para onde quiser.

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