quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dois mil e 10 mantras nûnquicos

nunca as horas foram
tão longas
e os minutos tão
mutáveis
no breve
ocupa espaço que é de
respirar
e excita
coloca a roupa translúcida do tesão
na antes nuda ansiedade
trepa-se quando se quer
fumar
quem chacoalha as pernas
justificativa trêmula para
não andar
nunca fui tão humilhado
nunca estive tão perto
nunca fui tão traído
nunca fui tão ameaçado
pela permissividade
do que era meu
e nada coisa minha
nunca choveu tanto em
abril
nunca tanto calor
nunca tão pouco vagalume
ou muito nada de pirilampo
nunca o que era lobo
tornou-se tão lobo
nunca mentiram tanto pra mim
nunca abusaram tanto
nunca menti
a cínica polidez
nunca morri por vezes
nunca me deixei
castigar tanto pela
outra vaidade
nunca foi tão seco
apesar do gelo derretido
nunca gelei tantos
corpos e olhares...
nunca minha libido
foi tão estuprada.

nunca fui tão pedófilo
(nunca pedi tanto
ganhei nada
mimei eu tanto)
quando me esfregava
nas minhas infantes memórias
para excitar aceitação
dos meus erros
de mundo
nudo


nunca bati tanto
sem ter apanhado
sangue no chão
por merecer

Nunca Deus foi tão zé-ninguém.

E nunca
o eu mesmo
foi tão eletrochoque

nunca o crime foi tão
ridicularizado
tratados como patifes
Que
Estado-Deus
É
ESSE ?


Nunca o império da águia
foi tão fundo falido
nunca
r a s te jei
pedindo tanto nunca

Nunca um aniversário
ódio do acaso
fui, flui. fluí ?

foi dádiva e chicote...

nunca me bati um tanto
nunca traveca-champagne
teve tão pouco gás
nunca hermafroditas alguns. foi tão
torturado.
nunca o livre foi tão.

tive como desperdício...

nunca o feminino foi encarado
como fogo de Estado
e
s
t
a
d
o

!

nunca as estações
tão desejosas
e
diluídas

nunca os arcabouços
das representações infantis do qual canhoto
foram tão temidas e citadas
-
tão lindas que são .

nunca os atores
se confundiram um tão com suas máscaras
ao ponto (ponto!) de não responderem
mais ao que foram chamados –
por terem dado nome:

peito de quem se delata...

nunca apanhei tanto
no chão
a mim mesmo
de mim mesmo
e
quem em mim adaga
no lugar do carinho

nunca me vesti tão mal
fiz tão mal
me fiz.
nunca meu drama
ficou tão por ele reivindicado
nunca ser brasileiro
foi tão desejo de consumo
e todos estes taos tão só surpresa

o tão é o tamanho do inesperado
corre contra por ser oposto
ao tamanho que era acúmulo em si
e não a altura do inédito
“nunca foi tão”... não sei.
se o tátil vívido
que é o meu
os antecedentes da fibra-tempo
desconhece
sabemos?
Sabe.

nunca o verde foi tão
Verte.
ver-te
em ver-se

verde sem ser dinheiro.


nunca o livre andou tão distraído pelas ruas
ao julgar que o meio-fio
esquadrinhava
suas meias vidas
que pintadas de piche
eram mortes inteiras
entre noite preta
amiga do não visto
onde o que era metade
se escondia.

nunca o chicote foi tão
fino e diminuto
virado espeto
pré-folha de cacto
desaguado
apego de gota
que fugia
o sol borrifava sal
aberta ardida ferida

nunca a existência foi tão desapropriada
eu choro quando eles dançam
rio quando se matam
e plantar bananeira quando se tem quatro cabeças
é ser uma mesa com umbigo :
nunca a cadeira
foi tão menos cadeira
o outro dos outros:
isto já não podia ser eu

nunca o grito foi tão mudo
que engolido seco
coalhou o choro
pretos lactos mudinhos livres

nunca o gentil foi tão inexpressivo
e, descomovido, o poço, afeito aos espetáculos supliciosos,
desistiu de dar mola
por desgosto
e ela nunca tinha sido tão esperada.
fez lembrar o moço
que mesmo o poço em sua superfície é espelho
mesmo fundo depois da imagem
quão fundo for
fundo sujo o espelho
é

nunca a fumaça foi tão injetável
e o fálico imagens de casas malucas
nunca ser gaga (gagá?)
foi tão distante
da emperrada fala
nunca Freud foi tão tarado
nunca o mar revolto
e amar tão revoltoso
pelo preto que nunca tão no poder branco


informação privilegiada:
1- nunca tive que perder tanto
2- o alívio :

era só uma mariposa

3- o alívio de ter voado:

que elas são feias mesmo depois do claustro.




Darcy Rebento

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