teu corpo
hera
desfolhada
em lâminas de chumbo
fino
me cortas
sorri :
relampejo
teu corpo
casco de
árvore
como se fruto
canela tivesse
maçã escura seiva de
mogno
úmido, tórrido
alimento
incandescente
polpa de brasa
e lambuzo
tu queimas
sei eu
teus pés correndo
chama vertical acesa
teu corpo
dançando com esquivas
no vento
golpeando o ar de
fumaça muda
feito vulcão
desgelado
rouco
partidor de icebergs
fogo! inflamador de
azul
ladrão da calma
sussurro cuspido de
pólvora e clarão
teu corpo
parte e partirá
à qualquer hora sem
aviso
meus olhos estarão no
cais
linceando teu navio
de fogo fugidio
velas, labaredas,
cera,
teus frutos cozidos
perfumando
a
noite dourada
o
vento, canela
teu
corpo ido
fumaça
caminhando nas águas
meus
olhos estarão no cais
sentarei
no
primeiro pedaço de chão
abrigo
de ondas
com
ouvidos nas mãos
taparei
os olhos
e como
um feto perdido
dentro
da concha calcificada
cerrado
na memória do teu fogo
incendiado
sobrará
dos meus ossos a única pérola
eu-pingente
no teu pescoço esguio
terás perdido nas cinzas
o último tesouro
debaixo
da altura de seus olhos
serei
jamais visto
perto
demais estou de ti.