segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Dos fragmentos de Anne Miller

A suspeição do hiato entre o inevitável já vivido e a herança do contraste. As grades e os ferros . O dia insistente no começo de seu brilho - ainda convencendo as árvores a se balançar. Ainda pedindo desculpa para a noite. Ainda riso invertido. Pede sinceras desculpas ao revelar à noite seu próprio e indizível branco final.


Faz pose de esfinge para os descrentes.
Palita o dente na mesa com urgência fingida.
Aprende traços de humanidade perante a invenção de todo desastre.
Aprende traços do divino em toda ritualização de si. Exclui-se os impulsos dos demais narcisos. E os de menos pois já deitados escravos.
Aborta assassinos de fetos que julgava não ser criança.
Palita o ouvido com algodão e dor
Suspeita ter um olfato fardonho.
Nunca foi a primeira escolha do grupo nos jogos de escola.
Ah, os jogos de escola!
Exato nesse dia suas palavras tinham sempre dor de cabeça ou vermelho fingido nas pernas.
Seus dentes eram erráticos e no descortino, ponto final.
Força que pede desculpa pela prostroza feitura de imensa beleza cantando junto com o susto das pedras mudas mudo e cinzas : estorpor das ondas que são e só são, e revoltam as máres.
Moças confinadas no lamacento das conchas petreamente , perpetuamente, condenadas a viver no susto que dá todo tamanho da lua.

lembrou de quando as estradas hospedavam o pedintismo viciado em esmola como um puteiro acolhendo astuto putas viajantes. era freguesa a neblina mais que todas. e todas as pessoas que decidiam ali parar pagavam a concessão do medo pela agua ceguenta quando fumaça. o vapor era levemente o fatal acaso concedido no retalho feio dos vestidos que poupavam as acrobatas, os palhaços e os anões da nudez ridícula.
e lá estava esganada de vapor andarilho. tomada pela salvação memoriosa, lembrava do sorriso de quintal de boca o medo das mães e tias quando imaginavam o que a juventude era capaz de fazer crer sumir aos ditos responsáveis pela sua integridade corpórea, fome e infante suícidio. o desertor moral de nome e mapa. fugiu com o circo!  diziam as inimágináveis putas comidas nos instintos dos mágicos de grandes cartolas.
me finga serrada!
me finja serrada!
e eu me minto  imperceptivelmente inteira.
comendo coelhos pra fazer sumir o que não nasce no chapéu.

sentada numa pedra de agua corrente feita fonte guardada pela pedra-estátua da santa pensava torto e quase doía.
o estrangeiro que a comia viva no mal quisto claro da noite a desconcertar um ruído sem nota que espancaria de vaias qualquer aplauso que abusasse do silêncio. Agracem em gesto cordial cientes da ineficiência do palavar sempre concordado em respirar entre todas as apropriações que esmagam o previsto.
coçava o cabelo cheio, úmido e espantado. cheirava mais água do que o rastro de tudo que a gente - como ela : gente gosta. e no fundo. bem lá no fundo. quase afogada pela mentira da timidez, brotava flor inibida e rebelde verde no muro-testemunho dos cortiços.
 quase noite vendida as frutas e tudo que conseguia mentir tentava lembrar como se soletrava o nome da volta.
 já muda e rouca por dias deitava confortável o cansaço na aspereza da única garganta que tinha.

toda chuva veio como era de se imaginar o medo dos confundidos .

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