domingo, 8 de novembro de 2009
cada vez que o presente tentar me engulir
um patuá com o rosto de quem me fez?
Assim a tristeza chega devagar...
E eu a tranformo de magma a basalto,
calço com negro trilhas opostas
às sendas de todo esquecimento.
Pode o presente ser um esquecimento
daquilo que era presente antes ?
Um baobá boto na boca desse crocodilo.
Um assustador de contexto!
Espantalho da reflexão panóptica!
Ode à energia geradora de mim
e cumprir experiência quando afável.
de mórula à blastula, culpado!
Há um homem que me ama como para sãos não deveria amar
cumprindo a sua por mim
toda via mais por ele
por ser humano
e ter umbigo .
Elogiado foi na mesa.
não faz parte desse mundo
"Onde habitam os anjos carecas?"
foi consenso
das carismáticas figuras que o acompanhava
Concordei.
( fazendo das letras capitais e dos pontos o embaralho do meu desejo - que eu seja também arrogantemente didata!)
Se há algo próximo do amor incondicional
poderia ter sido o dado pra mim .
A vida toda.
Penso até que é pouco
para viver o tudo querido com ele
quando a ampulheta virasse
-ou de lado tombasse como o fim quiser-
não houvesse mais nada de inédito...
Num mar muito navegado por nós...
Todas as situações quistas viverei e pai, chão de terra, estrela,
mares que tenho por criação direito!
No poder soar moral não sendo,
viveremos.
Vívidos!
Nascido em berço de ouro
se fosse aí o repouso da mesquinharia que nunca há de acordar!
O que importa as estrangeiras teorias de castração?
Os maus exemplos vistos?
O apego e suas bocas-ventosas?
O entre vivido com a mulher por onde sai?
Uma beleza de mãe de pai no erótico se prostrava
mesmo ainda por nós de voz desconhecida.
Um adorável filho de puta
por ser orfão fez crescer
grandes amigos do desconhecido.
Poupa muitos das árvores genealógicas,
das obssessões em estratos das origens...
Apaga a hipocondria das chagas hereditárias
e fez crer que toda puta é do prazer rainha.
Chamaria de palhaço,
não fosse o cinismo dos que vestem narizes para sê-lo...
Não fosse os de espontaneidade programada
para de tão afável com a cruel vida
suscitar a piedade da resistência pelo riso,
freio da face de choro,
culpa de quem mantem em sujo cativeiro
desejosos leões
que não soube cavalgar.
O adorável vai em nuvens,
chega mais livre,
por muito não ter obrigado aprendido
É mais lobos que todos os outros...
criador das primeiras aversões aos passos
do ser manada e não matilha.
Uivo quando lua e branco quando sol
sem nada guardar infinito irradia
cada uma das cores
que singular tingem
a leveza da subtraída vaidade.
Deve ter ficado orfã também
ao saber que naquele corpo não moraria...
De tão boa praça que era
até mesmo a vaidade cativou...
Prometendo à ela corpo e casa,
gozou,
a dotou de pernas, luz de vagalume e vontade de rei
para no mais belo dos uivos tentar dizer
que me fazendo existir eu seria
um pouco mais contra mim pela culpa
de estar por retorno fadado
à nunca resistir em dar-llhe acolhida.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Solapar
A lâmpada por trás da hélice
mal ventila, pisca-pisca.
Frenética iluminação,
quantos já deve ter hipnotizado
no pular e no cair na cerca?
Uma porta verde e um telefone vermelho
-se precisasse de socorro não funcionaria.
Tento dormir no meio do canto de Ossanha
Solapo a Lapa dormindo dentro dela.
Convido-a para para os meus sonhos.
São labirintos e ela gosta de profanamente se perder,
imagino essa tarefa com certa impossibilidade.
Erroneamente bebo
a chuva que tardou
a dois dias para findar maio.
Termino onde comecei: na Lapa
Agora só.
Dormirei desconfortavelmente só.
Mas afável estou comigo.
Desembarque
Desembarquei de mim.
Depois do credo e veemência :
não era mais preciso ir às alturas.
Anos passaram...
Enferrujaram-se os binóculos e o resto metal.
O subir apenas pensado já cansava.
Titubeava entre alçar velas e sentar mareado no meu tédio.
Trocava tantas palavras com quem tinha medo!
Até quase pensar que por ter maus ouvidos, medo também sentia!
E velava montanhas...
O ter que querer subir fatigava.
Até chegar o justo momento anterior ao pôr da lua,
para desembarcar de mim e de vez.
E por vez acreditei que todas as praias
nada mais eram que poeiras de montanhas.
Perdi o medo da preguiça das alturas.
Troquei o ar rarefeito
para tê-las entre os dedos.
Aquelas que outrora se mostravam montes,
esfarelavam-se na possibilidade
de erosões serem as minhas.
No poder de ser eu a poeira e a montanha,
desembarquei de mim.
Para os bandeirantes e seus filhos
Quem te pintou de cinza São Paulo?
Quem te preferiu ao renagar a lua?
O mar tem cheiro e não é daqui.
Nem sei onde olhar.
Há aleternativas...?
Entre um predio e outro rói o tédio.
Antes ruísse...
Assassinos da fauna!
Só sobraram morcegos?
Ou é o que vejo só?
Vejo um cachorro também...
A tristeza de um cão encostado na varanda do apartamento.
É essa a que vocês filhos de bandeirantes sentem
antes de , por pura necessidade de distração
(lendo que necessidade é quase sempre muito mais efeito do que causa
- é invenção.)
se proclamarem tão laboriais?
A mancha de café no colarinho do pró ativo...
A eloquência de quem chuta baianos e negros por eficiência.
E nada os redime só pela ocorreência de tantas semelhanças
em muitos outros lugares!
Ou uma cadeia cheia
faz alguém menos presidiário?
Aqui o sol nasce para todos
▀ .
Potosí
Escorre para onde minha lava
goteja flamejante no canto do olho
nào é por ninguém
não é para ninguém
é para ali
logo acolá
onde dobra a esquina de mim
numa rua outra.
Que não as com postes...
Pode Potosí?
Posso.
E as minhas também são calçadas de ouro.
Canto para pedestais
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Se estiver atrapalhando a visão, tirem as máscaras
A gripe suína e o meio ambiente, por José Saramago
Já tinha lido alguns escritos sobre as possíveis relações entre a pandemia de gripe suína no mundo e a precárias condições ambientais da indústria pecuária. Resisti tolamente até hoje, quando li, no blog do mestre José Saramago, dois textos definitivos sobre o tema. Tomei o cuidado de pedir autorização à fundação que leva o nome do autor para republicar as pérolas no Blog Verde. Eles gentilmente cederam os dois textos, e só pediram que eu citasse a fonte. Então, clique aqui para ler o blog "O Caderno de Saramago". Abaixo, os escritos:
Gripe Suína 1 (José Saramago)
Não sei nada do assunto e a experiência directa de haver convivido com porcos na infância e na adolescência não me serve de nada. Aquilo era mais uma família híbrida de humanos e animais que outra coisa. Mas leio com atenção os jornais, ouço e vejo as reportagens da rádio e da televisão, e, graças a alguma leitura providencial que me tem ajudado a compreender melhor os bastidores das causas primeiras da anunciada pandemia, talvez possa trazer aqui algum dado que esclareça por sua vez o leitor. Há muito tempo que os especialistas em virologia estão convencidos de que o sistema de agricultura intensiva da China meridional foi o principal vector da mutação gripal: tanto da “deriva” estacional como do episódico “intercâmbio” genómico. Há já seis anos que a revista Science publicava um artigo importante em que mostrava que, depois de anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte havia dado um salto evolutivo vertiginoso. A industrialização, por grandes empresas, da produção pecuária rompeu o que até então tinha sido o monopólio natural da China na evolução da gripe. Nas últimas décadas, o sector pecuário transformou-se em algo que se parece mais à indústria petroquímica que à bucólica quinta familiar que os livros de texto na escola se comprazem em descrever…
Em 1966, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de suínos distribuídos por um milhão de granjas. Actualmente, 65 milhões de porcos concentram-se em 65.000 instalações. Isso significou passar das antigas pocilgas aos ciclópicos infernos fecais de hoje, nos quais, entre o esterco e sob um calor sufocante, prontos para intercambiar agente patogénicos à velocidade do raio, se amontoam dezenas de milhões de animais com mais do que debilitados sistemas imunitários.
Não será, certamente, a única causa, mas não poderá ser ignorada. Voltarei ao assunto.
Gripe Suína 2 (José Saramago)
Continuemos. No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre a “produção animal em granjas industriais, onde se chamava a atenção para o grave perigo de que a contínua circulação de vírus, característica das enormes varas ou rebanhos, aumentasse as possibilidades de aparecimento de novos vírus por processos de mutação ou de recombinação que poderiam gerar vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. A comissão alertou também para o facto de que o uso promíscuo de antibióticos nas fábricas porcinas – mais barato que em ambientes humanos – estava proporcionando o auge de infecções estafilocócicas resistentes, ao mesmo tempo que as descargas residuais geravam manifestações de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou milhares de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).
Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente patogénico teria que enfrentar-se ao monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e ganadeiros, como Smithfield Farms (suíno e vacum) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática das suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas umas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento dos investigadores que cooperaram com a comissão. Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como o gigante avícola Charoen Pokphand, radicado em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre o seu papel na propagação da gripe aviária no Sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do surto da gripe suína esbarre contra a pétrea muralha da indústria do porco. Isso não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o rumor de um epicentro da gripe situado numa gigantesca filial de Smithfield no estado de Veracruz. Mas o mais importante é o bosque, não as árvores: a fracassada estratégia antipandémica da Organização Mundial de Saúde, o progressivo deterioramento da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industralizada e ecologicamente sem discernimento.
Como se observa, os contágios são muito mais complicados que entrar um vírus presumivelmente mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das grandes empresas. Tudo está contagiando tudo. A primeira morte, há longo tempo, foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se honradez a uma transnacional? Quem nos acode?