quinta-feira, 30 de junho de 2011

Avoa avó

falava de aviõezinhos em potes de comidas
moscas pretuminhas agitadas
gostava de Mazzaropi
respondeu
sim
na roça não tinha esse negócio de nojo
acabou de dizer
não tinha essas bestices
molestou, casou
era a lei
triste era lei
zangada, consentia
eu saía de fininho
cansava muito inventar uma língua concordante
para em vão
permanecer incompreendido
retornava ela
do sofá aos pensamentos
algo lúgubre
algo revisionista
um inventário silencioso dos feitos
imaginação minha...
de repente era tão só
a morte das bezerras
e ela mesmo
uma
bezerra hommo ludens

mostrei-me agraciado
com a possibilidade
de enfim
poder
curá-la com todo excesso
de caipirologia a transbordá-la
atiçando
nas voltas do corpo
um fino lúmen de lava
a catarse da imanência
o gêiser vomitado
pra dentro da terra
borbulhando águas
queimando de vapor lençóis
freáticos nascentes
olho-poço
corrente
para o mar
transmutante
capaz de esgarçar fibras
eriçatriz de ânima
atomicatálise
rejuvenervação
mercúrios, zincos, magnésias
titubeantes flertes da matéria!
conflichoque
contrapulsão
espermanálise
epifanálise
ecce contos
astrotontia e
mercúrios, martes, rocknésios !
de pluma dura
pedras suspensas
espirradas de leite
astrolácteos
via Gaia
paro. respiro fundo.
é preciso
respirar
f
u
n
d
o
golfar
engolir
golfar de novo
espasmodicamente
inventar outra língua

falava de aviõezinhos em potes de comida
branda feiticeira que era
magenta quase
cor
dos olhos
roça em par
agiam em instintopulso
catapultas adiantadas
o mundo sem por vir
existiu
por fome de letra
e raras comidas

penso em sacis
(de existência garantida por essa xingosa feiticeira)
mendigos folclóricos
urbanomitocrack
cachimpitos
nos muros
nos bairros
palimpssextos coloridos
risque-rabisque
da falência moderna
apunhalam-se
nos trabalhos
seriais
o sempre esforço matutino
sobra o é, o it
selvagem
luz del fuego
lanterna de fuga
capacetes contra meteoros
nu incandescente
pirilampo marítimo das névoas
corpo-barco de Hilda
onde bóiam mareados
os desejos eternos
retornados
renomeados
em cartórios
marginocultos
prefiro viver
não preciso viver
prefiro
viver
a ter
vindo
tão só
ver
tantos humanos
morrerem depois de mim

aqui jaz
um póstumo
natimorto

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